Essa é uma das tantas vezes em que o narrador tenta explicar aos outros -- e talvez a si mesmo -- o que é esse livro que está escrevendo.
Depois de publicado o romance, foram e ainda serão muitas as vezes em que jornalistas e críticos literários tentaram e ainda tentarão explicar o livro que Julián Fuks escreveu.
E será possível dizer muitas coisas sobre A resistência. Que foi passo decisivo da carreira de um jovem romancista. Que com rara lucidez e sensibilidade tocou em temas como adoção, família, exílio, engajamento, memória pessoal e história nacional. Que o romance e seu autor foram voz marcante numa época turbulenta da política no Brasil.
Mas dizer todas essas coisas não parece suficiente. Porque em A resistência há algo que sempre escapa a definições. Sem saber se cala ou confessa, se lembra ou inventa, se é mesmo possível contar sua história, a história de seu irmão e de seus pais e dos países nos quais viveram e, de inúmeras maneiras, resistiram, Julián Fuks faz uma bela reflexão sobre a própria literatura.
De alguma forma, sabe que a ficção já não será suficiente para dizer tudo o que é possível -- e necessário -- dizer sobre essas vidas todas. Por mais cuidadosas que sejam, sabe que nenhuma de suas palavras fará jus ao irmão. Mas, ainda assim, escreve. Porque escrever é resistir a tantas impossibilidades.
Acho que é por tudo isso que nunca fui capaz de falar sobre A resistência. E sempre que alguém me perguntou sobre o romance, só consegui responder dias depois, dando o livro de presente e dizendo: leia, porque existe aqui algo de íntimo que convoca a intimidade de cada leitor, porque essas biografias precisam falar direto à sua biografia, porque nenhuma de minhas palavras fará jus a esse romance.
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