A Virada Cultural deste ano acertou em cheio ao escalar uma programação afrocêntrica em seus palcos de destaque. Na Júlio Prestes e na Praça da República, o suingue imperou noite adentro e se esticou tarde afora.
Não fez diferença que os gêneros escolhidos -soul, jazz e afrobeat- tenham públicos segmentados e não toquem no rádio. Ao vivo, de graça, tocados para gente de todas as esferas sociais, o ritmo falou mais alto.
Foi comum ver seguranças balançando ao groove do soulman Charles Bradley, cantor de qual provavelmente nunca ouviram falar, ou vendedores de cerveja interessados pela poliritmia africana de Seun Kuti.
Tais ritmos, quando bem feitos e tocados em alto e bom som para o grande público, deixam de ser privilégio dos descolados. Também trazem frescor às escalações dos últimos anos, que trouxeram samba rock e funk soul genérico em demasia aos palcos.
Neste ano, os destaques desta porção ficou por conta da trinca de afrobeat na Julio Prestes, e do soul na República. Ebo Taylor, do Gana, esquentou a pista para o lendário baterista Tony Allen, parceiro de Fela Kuti, que trouxe déjà vus dos grandes discos de Fela. Seun Kuti foi o ápice da noite, com presença de palco memorável acompanhada pela magistral banda de seu pai, a Egypt 80. Na República, McCoy Tyner, Charles Bradley e Larry Graham agradaram.