O teste é interessante e válido. A partir do primeiro minuto desta sexta-feira, 25, chegou às plataformas o novo disco dos Tribalistas. Ouça, contudo, o primeiro álbum do trio formado por Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, lançado em 2002, antes de cair no segundo trabalho deles.
E, então, volte a esse texto.
Percebe o impacto da transformação? Os Tribalistas de 15 anos atrás vislumbravam um mundo mais colorido. Cantavam, no fim daquele álbum, como os "saudosistas do futuro".
A partir do novo Tribalistas, o disco, o caminho é perigoso. Atormentado. Claustrofóbico. O futuro promissor se tornou sombrio.
É inevitável. O artista, como comunicador, filtra o exterior. E o que vomita, no formato de música, é apenas o retrato, o reflexo daquilo que se vive.
"Tudo o que compomos é o resultado de conversas que temos entre nós", explica Marisa Monte, ao blog, em entrevista realizada em um hotel de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Ela continua: "Não é que planejamos os temas. Mas isso são diálogos. Algo que estamos todos vendo. E são essas coisas que nos levam a escrever. Fazem parte da nossa relação. Das nossas vivências."
Tribalistas (o segundo disco, que a partir de agora será chamado de Tribalistas 2 para evitar confusões) é mais um retrato, tal qual foi o primeiro álbum. Se cantavam sobre saber namorar em 2002, agora, as três vozes se misturam e se conectam a respeito de um mundo muito mais perturbado.
Diáspora (que pode ser ouvida no player acima) é um grito. Um desespero sobre os muros erguidos para separar o mundo. "Vivemos o fim do muro de Berlim", analisa Arnaldo Antunes, sobre a queda da parede erguida para separar as cidade de Berlim e dividia, metaforicamente, o mundo entre os aliados dos Estados Unidos e da União Soviética.
E são vários os gritos de ajuda em Tribalistas 2.
Diáspora, faixa que abre o álbum, pede pelo fim dos limites. "Temos o sonho de sermos todos cidadãos do mundo", diz Arnaldo - que não tem qualquer vínculo de parentesco com esse que aqui escreve, é bom dizer.
As ocupações nas escolas inspira Lutar e Vencer, uma canção direta, que diz a que veio. "Não temos líderes", clama o trio. Há, na canção contestadora, um pedido pelas revoluções. Pequenas ou enormes.
Vive-se num mundo "binário", como diz Marisa. "Mas não é bem assim que as coisas funcionam", ela diz. Daí, desse cotidiano de extremos, contra o tal "nós versus eles", nasce Um Só. No discurso, os Tribalistas clamam pela aceitação.
"É um disco de amor!", exclama Brown.
E de fato é. Até quando Tribalistas 2 é mais agudo, sua mensagem é clara. Somos, como eles dizem, um só.
São três temáticas principais aqui. O "nós", sobre questões coletivas, o "eu", com mensagens a respeito de quem somos, como a a balada Ânima, e o "dois", que descaradamente trata do sentimento colorido que é amar.
Feliz e Saudável é uma grande canção dessa última parte da tríade temática de Tribalistas 2. Separa-se da dor e, livre, aceita o fim do relacionamento. O tempo, às vezes, é nosso amigo. E ele, com seu passar irrefreável, às vezes é bom.
Tribalistas 2 foi, como Tribalistas 1, um disco de surpresa. Com um live de Facebook, Carlinhos, Arnaldo e Marisa confirmaram o que era só rumor: os Tribalistas estão de volta, 15 anos depois. Tal qual ocorreu no primeiro lançamento do trio, não há previsão de turnê.
O mundo pode não ser o mesmo. Nem mesmo a ferramenta de transmitir um vídeo ao vivo pelo Facebook existia, veja só.
Fruto desse mundo de hoje, Tribalistas 2 é um canto.
Sobre o hoje.
E, infelizmente, o hoje e grande parte do disco pede por ajuda.
Ouça 'Tribalistas', o novo disco de Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown:
https://www.youtube.com/playlist?list=PLZGavNCmaftEDiHerZdenhQ4B6Bay5rxI