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Nevilton lança Adiante, o primeiro disco em quatro anos, para provar que "todo fim é um recomeço"; ouça

É das certezas mais primitivas, não é?Todo fim é, de fato, um recomeço.A vida é cíclica desde sempre.O sol vem e se vai. A lua chega e se despede.O contemporâneo tornou as relações mais frágeis, é verdade, mas a vida segue o mesmo ritmo.Fins e começos.

Por Pedro Antunes
Atualização:

Adiante é o primeiro disco lançado por Nevilton, a banda de Nevilton de Alencar, em quatro anos.

Banda Nevilton ( Foto: Arquivo pessoal)

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O fim de um hiato.E o recomeço de uma jornada que garantiu ao rapaz de Umuarana, cidade do noroeste do Paraná, duas indicações ao Grammy Latino e reconhecimento, na última virada de década, como um dos nomes mais interessantes do indie nacional.

E talvez nada romantizado tenha atingido Nevilton nesse período de quatro anos entre Sacode!, de 2013, e Adiante, lançado nesta sexta-feira, 24, com exclusividade no blog Outra Coisa.

Ele, em um texto de apresentação do disco, publicado no site oficial, diz que não.

"Tudo o que eu queria é que todo esse tempo para um próximo disco fosse apenas 'pressão para fazer um disco ainda melhor", escreve ele, e segue, "alguma loucura de superação, bloqueio criativo, crise com estilo de vida e autocontrole nessa vida maluca."

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"Mas não foi nada disso", conclui.

O que tragou Nevilton foi o próprio furacão do tempo do hoje. É o tal corre. É o relógio que não para.

Quatro anos parecem, às vezes, ser um só.

Com a saída do baterista Éder Chapolla, logo após as gravações de Sacode!, o power trio Nevilton se tornou um duo formado pelo guitarrista e vocalista que dá nome ao grupo e o baixista Tiago Lobão. Seguiram com shows por festivais independentes, alternando-se de formação.

Em 2013, por exemplo, em uma apresentação no Vaca Amarela, um dos bons festivais independentes realizados em Goiânia, o duo teve a companhia de Bruno Castro nas baquetas.

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Naquela noite de novembro, após uma apresentação enérgica, em um dos palcos do Centro Cultural Martin Cererê, Nevilton, no auge da excitação do pós-show, disse uma das mais divertidas frases ouvidas pelo autor do blog durante o festival: 

"Não queremos ser a Claudia Leitte", falou. "Queremos é fazer show, pagar as nossas contas".

Há quatro anos, o meme de "viver para pagar boletos" sequer existia, mas Nevilton já previa a piada com a corrida da existência moderna contra as contas que não param de chegar nas nossas caixas de correio.

O fato é que ninguém precisa ser uma Claudia Leitte - e ainda bem. (Veja só, Nevilton, o quanto aconteceu com a cantora desde aquele ano de 2013?)

O importante é entender seu próprio caminho e seu objetivo artístico. Foi isso que Nevilton quis dizer. E foi o que fez a partir dali.

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Quatro anos passam voando, meu caro Nevilton. E é chegada a hora de seguir adiante.

Capa de 'Adiante', novo disco do Nevilton 

Com Adiante, ele, Tiago Lobão e o baterista André Dea, estudam a passagem do tempo. Principalmente, a nossa relação com o relógio que teima em correr. Às vezes pro bem. Às vezes pro mal.

"Todo fim é um novo começo, mas eu não peço para recomeçar /Quando é difícil é que me reconheço /Sei cada passo que tive que dar /Se todo fim é m novo começo /Eu nunca peço para recomeça", diz Todo Fim, uma canção de pouco mais de 1 minuto de duração, responsável por abrir Adiante.

Está tudo ali no cartão de visitas, uma mensagem ancorada em guitarras pesadíssimas.

Nevilton, a banda, tem a capacidade de unir o peso do instrumento com a candura dos seus versos. É quando acertam em cheio.

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Com Lua e Sol - mais uma referência temporal, veja só - ele canta o amor impossível. O trio é acompanhado dos teclados de Marconi de Moraes e o sax barítono do ótimo Esdras Nogueira (que lançou um disco ao vivo em outubro e pode ser assistido aqui).

O disco segue por Amarela, uma deliciosa e agridoce canção autobiográfica sobre a ausência e, claro, sobre a passagem do tempo.

"Vai amanhecer de novo. E eu aqui, caderno caneta, um trago e um café". Faltam você e aquele verso perfeito para fechar um refrão - e, talvez, elas sejam a mesma coisa.

A ausência cantada por Nevilton está naquela última peça do quebra-cabeças para que ele (e cada um de nós) se sinta completo. Enquanto isso, o ciclo, o dia e a noite, segue seu curso implacável. 

É a angústia do descompasso com o tempo. Quando ele segue seu andamento imutável e, nós, incompletos, só queremos que ele vá mais devagar ou acelere.

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Na lista de canções imprescindíveis deste disco estão ainda Melhorar (o primeiro single e uma rajada de otimismo), Doce de Jaboticaba (deliciosamente doce), Abraço (que conta com violões e um solinho de flauta) e Adiante (com os vocais de Jajá Cardoso, do Vivendo do Ócio, e Thadeu Meneghini, dos Vespas Mandarinas).

Talvez não fosse intencional examinar o tempo, mas Nevilton o faz. É um processo dolorido, às vezes. Noutras, é reconfortante.

Adiante, o disco, começa com a música Todo Fim. E chega ao fim com Novo Começo.

Todo fim é um recomeço, afinal. 

Ouça Adiante:

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https://www.youtube.com/playlist?list=PL9YCfZj-KStVXvEXEs7i1my8S9-T30qkL

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