Pedro Antunes
23 de fevereiro de 2015 | 18h45
Um ator, famoso por interpretar um super-herói nos cinemas, busca a redenção artística (e espiritual) e, enfim, deixar a sombra do antigo personagem para trás.
A sinopse se Birdman confunde-se com a trajetória de Michael Keaton em tantos níveis que era impensável ver outro nome naquele papel. Digo mais, não fosse a presença de Keaton no longa, Alejandro González Iñárritu não sairia tão consagrado como foi, na noite deste domingo, 22. Foram três estatuetas diretamente para o mexicano, de filme, diretor e roteiro original, além de uma para Emmanuel Lubezki, na fotografia.
Então, por que a estatueta de melhor ator não ficou com Keaton? Justamente por ele ser extremamente semelhante a Riggan, personagem dele em Birdman.
Sujeito meio canastrão, estrela de cinema das antigas, distante do gosto dos críticos e, convenhamos, longe de ser uma unanimidade quando o assunto é talento cênico. Ainda assim – e por isso, mesmo -, Keaton se despe da forma mais crua e direta possível para dar vida ao personagem que poderia ser ele, e talvez seja, de alguma forma.
Merecia o Oscar, sim, pelo peso da interpretação mostrada na tela, o desprendimento e a reinvenção. O escolhido para interpretar o Batman nos dois filmes do herói dirigidos por Tim Burton manteve a parceria com o diretor em Beetlejuice, mas nunca mais conseguiu grande destaque nos holofotes. A cada novo filme do Homem-Morcego, ele se via assombrado pelo personagem que lhe deu fama. Curiosamente, foi outro herói, desta vez o imaginário Birdman, que o alça ao estrelado.
Para deixar a situação ainda mais delicada, Eddie Redmayne, o vencedor do Oscar de melhor ator, fez um trabalho digno e impressionante em A Teoria de Tudo, ao interpretar o definhamento físico de Stephen Hawking. Sim, digno de prêmios e mais prêmios, mas ainda está em cartaz o pavoroso projeto dos irmãos Wachowski, os mesmos da trilogia Matrix, Destino de Júpiter. Nele, Redmayne está pavoroso. Se a atuação no blockbuster não deveria ter lhe tirado a chance do Oscar, pelo menos deveria ter dado a ele uma Framboesa de Ouro, para que ele pudesse colocar ao lado da estatueta recebida no domingo.
Assista ao trailer abaixo. E, se não assistiu Birdman ainda, corra.
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