Pedro Antunes
02 de fevereiro de 2018 | 16h00
No vai e vem do arco do violoncelo de Federico Puppi há um canto triste.
Movimenta-se como o mar, que une e separa, que cria vida e a afoga. Que limpa e chora.
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Com a música e o clipe de Ciranda dos Náufragos – lançados com exclusividade no blog -, o artista italiano radicado no Brasil dá início aos trabalhos para Marinheiro de Terra Firme, o novo seu novo álbum.
No vídeo, Puppi tem suas imagens projetadas em edifícios do Rio de Janeiro. Como um fantasma, um náufrago urbano, em todos os lugares e, ao mesmo tempo, em nenhum.
Sem letra, com seu instrumento e acompanhado por Lancaster Pinto (baixo), Felipe Roseno (percussão) e Mario Wamser (violão de aço), Puppi propõe a angústia dispensando as palavras.
Quem diz é o vazio do pizzicato (o ato de tocar as cordas do instrumento com os dedos e não com o arco) do início da canção, que desenha, em poucas notas, as harmonias que viriam a seguir.
A partir disso, a canção grita, como se ninguém a escutasse. Em movimentos cíclicos, Puppi e banda envolvem o ouvinte em camadas claustrofóbicas e, ao mesmo tempo, saborosas.
Sua ciranda não é pernambucana de origem, mas propõe uma dança lamuriosa por quem não é alguém. Os “não vistos”, como ele diz.
“Os náufragos que povoam as cidades”, ele explica. “Os marinheiros que perderam o barco e ficaram encalhados nas ruas da cidades. Os náufragos dentro da cidade, a cidade dentro dos náufragos.”
O videoclipe, que pode ser assistido abaixo, foi dirigido, gravado e editado por Almir Chiaratti. Uma ideia cujo embrião surgiu numa mesa de bar no bairro da Lapa, no Rio, depois de um show.
“Conversando com Almir chegamos na ideia de projetar a minha imagem em todo lugar da cidade. De alguma forma eu virei o náufrago e estando em todo lugar, mostro que os náufragos estão por todo lado, é só observar”, conta.
Assista ao vídeo de Ciranda dos Náufragos:
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