"Sou mulher""Negra""Lésbica""Periférica""Quero viver de música"
Clara Lima é tudo isso. E rapper também.
Frente a frente a tantas paredes erguidas pelo patriarcado conservador, segue lutando.
Salta de muro em muro, até, do topo, olhar para baixo e contra-atacar como sabe.
Atira com versos e rimas.
Transgressão é isso. O primeiro EP da rapper mineira, lançado pelo selo Ceia, é a agressão retribuída.
É a rua, a quebrada, em versos de flow firme, beats soturnos. Como a trilha sonora de uma madrugada aflitiva na qual não se sabe, ao certo, como chegar vivo para ver o sol amanhecer no dia seguinte.
É a sensação de perigo constante.
Clara Lima, com as seis músicas do EP, sabe colocar o ouvinte dentro da pele dela. Sente-se as agressões sofridas, a vida impiedosa. Comemora-se a vitória, que chega aos poucos, mas é saborosa.
Nocaute, terceira do trabalho, desfere um golpe no estômago. Ágil, ela é furtiva nas rimas. Rebate o que chama de "sistema bruto" num ataque rápido, de pouco mais de 2 minutos de duração.
A porrada de Clara vem com os versos de "tiro pra caralho, tiro, tiro pra caralho" e "munição nós têm demais". Ela avisa: está pronta para o que vier.
Djonga e FBC participam de Vida de Luxo e Selva, respectivamente. São vozes que se cruzam bem com a fúria de Clara. Somam no discurso.
Em Transgressão, o disco, Clara Lima não se apoia nos beats como muletas. As batidas em repeat são uma escada na qual ela sobe apenas que sua rima se propague.
A excessão é Prá Lembrar, a canção mais "canção" do EP e escolhida para abrir o trabalho. No refrão cantado, Clara Lima soa nostálgica.
Discute o tempo, inquebrável, impossível de frear.
Tal qual a rapper. Pará-la é impossível.
E, um conselho de amigo, é melhor nem tentar.
Ouça 'Transgressão':