A música que sai dos fones de ouvido do lado de cá também pulsa nos ouvidos feridos de Baby, o motorista de fuga sob as ordens de Doc, o bandido que não é tão mau assim de Kevin Spacey, em sua primeira fuga no filme.
Lá, perde-se o fôlego um punhado de vezes, em cenas coreografadas por Ryan Heffington, o mesmo dos clipes da cantora Sia.
O carro gira, o som aumenta, em riffs cavalares.
O veículo derrapa, os vocais rasgados de Spencer martelam na cabeça.
A fuga tem êxito, o som desaparece.
Fica o ruído da barulheira do lado de cá, tal qual o zumbido crônico que atormenta Baby.
E, embora não seja só a explosão do blues rock de Jon Spencer que domine as playlists do motorista, é a fuga da realidade que ele busca.
E a encontra na fúria do rock e nas baladas melosas dos The Commodores e no suingue de Bob & Earl. O amor toma forma com Deborah, do T. Rex, e o sonho com o futuro se alimenta de Let's Go Away For Awhile - que não precisa ter versos para fazer a imaginação correr para fins de tarde ensolarados em boa companhia.
As canções escolhidas têm, em comum, a ideia da fuga. Seja social, cultural, política. Os BPMs (batidas por minuto) ditam o ritmo lá e cá.
Quando Jon Spencer se silencia, o fim parece ter vindo rápido demais.
Assim como a velocidade do acerto de Edgar Wright, vicia.
https://open.spotify.com/album/1rKtp8dt8DDLzcLOpyncWA