O Mundo Novo Antigo de Filipe Catto

 Filipe Catto na gravação do Vozes do Brasil. Para ouvir siga o link.

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Por Redação
Atualização:

 

Porto Alegre é um manancial. Por ali nascem, crescem e se reproduzem talentos que muitas vezes ficam por lá, satisfeitos. Não foi assim com Filipe Catto. Quando se viu pronto lançou pela internet um ep para dowload gratuito e fez barulho na imprensa de todo Brasil. Esperteza de um jovem veterano.

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Ainda menino cantava em bailes e festas com o pai e numa de suas primeiras experiências enfrentou uma platéia de 3 mil pessoas. Nenhuma timidez. Foi criado para isso, jamais pensou em fazer outra coisa da vida que não cantar e compor. Daí a sua naturalidade impressionante. Filipe domina o microfone, a dinâmica da banda e tem carisma de sobra para calar a audiência mais barulhenta, no palco se sente em casa.

Sua voz de timbre raro, seu canto afinadíssimo, estão à serviço de um discurso coerente. Dramático sem ser nostálgico, atitude rock'n roll com a sofisticação estética de um Oscar Wilde contemporâneo. Suas leituras de Hilda Hilst ou Caio Fernando Abreu se misturam às crônicas de um cotidiano romântico e compoem um repertório  cheio de charme e crueza. Filipe gosta de falar de amor. Do amor entregue, da paixão desregrada, passional. Pra isso se serve do tango, do samba canção e do blues. Brinca com gêneros e ritmos levando muito a sério a missão do intérprete. É um cantor que se dá para à canção como fazem suas musas e referências para o ofício: Cássia Eller, Elis Regina, Janis Joplin, Bethânia, P.J.Harvey, Maysa. Sem fronteiras para épocas e estilos. Qualquer coisa entre Dolores Duran e Amy Winehouse.

Filipe é um contratenor, uma definição que se aplica muito mais à música erudita do que à popular, mas tecnicamente falando é um cantor de voz especialmente extensa que atinge graves de barítono ou baixo se quiser, mas que lembra uma voz feminina de registro mais grave. Segundo Suely Mesquita, cantora, compositora e preparadora vocal, o cantor com esse tipo de voz incomum tem a capacidade de comover com a delicadeza e as nuances de timbre que se prestam muito bem a efeitos dramaticos. Mas é claro que não basta ter esse registro de voz para gerar impacto na platéia, é necessário ter estilo e expressão própria, o que não é problema para Filipe Catto. Há quem se apaixone por ele só de ver um videozinho no Youtube.

E esse jovem letrista, que admira Chico Buarque, é um compositor que não tem medo da palavra, diz que gosta de falar de sentimentos inconfessáveis. Essa coragem, ou despudor juvenil, lhe confere uma personalidade encantadora e fascinante. É ele mesmo um personagem, um poeta de séculos passados usando jeans e tenis All Star. Bonito e sedutor como um jovem Rimbaud. Com a liberdade dos artistas de seu tempo - que hoje tem o privilégio de fazer música por amor a arte e não para atender as demandas de um mercado falido, Filipe canta a sua verdade, e é esse o mundo que queremos conhecer. Uma Saga que, na verdade, está só começando.

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FILIPE CATTO - FOLEGO (o disco faixa a faixa)

 

 

 

Depois de dito isso tudo vamos ao disco de estréia.  Filipe já vem com duas músicas em novela, o que não é pouco pra um artista que se lança agora comercialmente.

Está impresso aqui o desejo de gravar ao vivo, com a intensidade da criação, com o espírito que ele tem no palco. Filipe tem um gestual importante pra sua interpretação, ele precisa de espaço pra cantar, pra se expressar  por completo. E se entregar pra canção é técnica vocal pra ele. Cantou num microfone de show sem errar, sem desafinar com todas as manhas, toda a respiração registrada. Ele gosta de ritualizar as canções, pensar roteiros,  filmes, personagens.

A banda se reuniu no estúdio com a produção de Dadi e Paul Ralphes e os arranjos foram feitos ali. A partir desse encontro o disco tem uma dramaticidade pop que se ouve pelas 15 faixas. Fôlego passeando solto, livre e feliz por vários gêneros.

O recado é simples, "eu sou Filipe Catto e é isso aqui, eu canto". E como canta!

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01-Adoração

(Filipe Catto)

É uma canção de amor com acorde maior, de tesão e alegria, uma melodia antiga que ganhou letra dias antes de entrar no estúdio, me lembra uma boa balada pop de Belchior. Delicioso coro de Blubell e Marcia Castro

2-Gardênia branca

(Filipe Catto)

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Gardenia Branca é uma homenagem a Billie Holiday e a Elza Soares, musas de Filipe Catto. A heroina é a mulher. A letra veio toda na cabeça numa caminhada há dez anos enquanto Filipe lia a biografia de Billie. Lindo o banjo de Fabá Gimenez.

3-Johnny, Jack & Jameson

(Filipe Catto)

Um outro Filipe, morador de Nova Iorque, boêmio e bebedor , fez a música de brincadeira no violão e virou uma das mais pedidas em seus shows.

4-Redoma

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(Filipe Catto)

Uma canção muito antiga, uma cama perfeita pro intérprete mostrar toda sua voz. Se tivesse cor seria um azul profundo, se fosse um brinquedo seria um carrossel. Lúdica e apaixonada. As guitarras de Gui Held e Dadi conversam a respeito.

5-Juro por Deus

(Filipe Catto)

Um samba de pandeiro e voz que virou um blues e que vira um samba depois que a personagem muda de atitude. A letra veio de sopetão numa horinha de espera.Mais uma heroina safada, esperta. Adriano G

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6- 2 Perdidos

(Dadi /Arnaldo Antunes)

Musica que não precisa de ornamentos, uma letra simples, melodia fácil e diz tudo. Balada soul com acento Cat Power. Pop perfeito com a base clássica do baixo de Deco Telles e a bateria de Thiago Rabello.  O mix vem nas teclas de Adriano Grineberg.

7-Alcoba azul

(Hernan Bravo Varela)

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Da trilha Sonora do filme Frida, o tango entre duas mulheres vira aqui um encontro mais rock'n roll, com couro e motocicletas.

8-Saga

(Filipe Catto)

Saga entrou na trilha sonora da novela Cordel Encantado ao lado de icones como Caetano, Gil e Zé Ramalho. Uma música forte que já abriu as portas pro cantor e compositor, pro seu estilo e força e não poderia ficar de fora. Ganhou novo arranjo com violoncello de Marcos Ribeiro, bandoneon  de Carlittos Magallanes e

percussão de Filipe Catto  e  Sérgio Guidoux

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9-Nescafé

(Alexandre Kumpinski / Ian Ramil / Diego Grando / Marcelo Souto)

Versao da banda Apanhador Só, despida, nua, a letra diz muito mais. Filipe ouviu no show e se apaixonou. Guitarra, piano e voz. De rasgar o coração mas na maior elegância.

10-Garçom

(Reginaldo Rossi)

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Garçom - Arranjo que destaca o clima da canção, a letra evidencia com a qualidade do cantor, acento Maysa pra um sucesso brega. Fossa num bar de beira de estrada. Piano, orgao e Wurlitzer de Adriano Grineberg.

11-Crime passional

(Filipe Catto)

Da mesma fase de Saga mas composta por um observador. Resultado da pesquisa sobre tango, samba e samba canção que foi mostrada no primeiro EP.  A balada é do personagem. Dadi Carvalho assume o baixo, cavaquinho e pandeiro  de André Ressel se misturam ao violoncello  de Flavio DePaoli e ao Bandolim  de Sérgio Guidoux .

 

 

12- Roupa do corpo

(Filipe Catto)

Um samba, mais um dedicado a Elza Soares, nossa heroina. Ao contrario da mulher que aparece nos sambas tradicionais, ela aqui é aquela que vai, ela é o malandro. Percussão de Guga Machado.

13-Rima rica frase feita

(Nei Lisboa)

Atmosfera Angela Ro Ro, canção do gaucho Nei Lisboa gravada com a lembrança de Cássia Eller pairando pelo estúdio. Pra selar a pluralidade!

 

14-Dia perfeito

(Marcelo Gross)

Alto astral, o cantor deita e rola, se diverte com a ironia. Mais uma tirada do rock'n roll , uma homenagem aos tempos de loucura adolescente em Porto Alegre, ainda assim com as bençãos de Nina Simone misturando lindamente  piano com  percussão

15-Ave de prata

(Zé Ramalho)

O maravilhoso cancioneiro de Zé Ramalho visitado por Filipe Catto por intermédio de Elba. Essa maravilha estava no primeiro disco dela e foi pescada de lá. Momento de conexão com o divino. O violão de Dadi faz participação preciosa.

 

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