É um exemplar a mais do que se chama de metamelodrama. O verbete é parte das pesquisas de dramaturgia feita pelo professor José Carvalho (mais prestigiado teórico sobre roteiro no Brasil, que leciona como escrever para cinema e TV no Rio e em São Paulo na Oficina Roteiraria). Com base nas reflexões antropológicas do americano David Bordwell e nos ensaios geopolíticos do português João Maria Mendes, Carvalho consolidou essa expressão a partir da ideia de que o realizador de Má Educação (2004) cria seu universo com base no tecido visual "vivo" estabelecido pelo melodrama clássico e suas releituras modernos, de Douglas Sirk a Rainer Werner Fassbinder. De fato, Julieta tira sua percepção da condição feminina de "lições" que o cinema do passado nos deu, potencializadas aqui por um diálogo com a literatura de Alice Munro.
Sem humor algum, sem bizarrices na linha do realismo fantástico ou do filão sci-fi vistas nos últimos trabalhos do diretor número 1 da Espanha, como Volver (2006) ou A Pele que Habito (2011), Julieta é apenas um painel dos acontecimentos da vida de uma professora universitária, ao longo de duas décadas e meia. Numa atuação esplendorosa, Adriana Ugarte vive a jovem Julieta e Emma Suárez (brilhante) assume a protagonista em sua idade adulta. No início, temos um clima de suspense, que logo se converte em um registro melodramático sobre a relação caudalosa de Julieta com Xoan, pescador vivido por Daniel Grao. Já no primeiro encontro de olhares, Xoan mexe com a libido da jovem.