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Tem Almodóvar novo nas telas: 'Julieta' é avassalador

Que filme magistral é Julieta em seu acurado questionamento sobre o dilema de desejar e fazer disso uma afirmação catersiana do ator de ser. "Desejo logo existo", pensam os personagens de Pedro Almodóvar. Entre o tesão e o suspiro romântico, o filme é mais novo exemplar da estética do "almodrama". Quem cunhou o termo foi o baiano Caetano Veloso, ao se referir à estética do espanhol Pedro Almodóvar, de volta na melhor das formas em seu novíssimo filme. De cara, o longa-metragem estabelece a madrilenha Adriana Ugarte como beldade (e talento) nível Penélope Cruz. Sua estreia por aqui se dá nesta quinta-feira, 7 de julho, e é preciso que sua chegada seja valorizada, pois não se trata de "mais um Almodóvar" e, sim, de um grande filme sobre o viver, nas desinências mais cotidianas do verbo.

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
 Foto: Estadão

É um exemplar a mais do que se chama de metamelodrama. O verbete é parte das pesquisas de dramaturgia feita pelo professor José Carvalho (mais prestigiado teórico sobre roteiro no Brasil, que leciona como escrever para cinema e TV no Rio e em São Paulo na Oficina Roteiraria). Com base nas reflexões antropológicas do americano David Bordwell e nos ensaios geopolíticos do português João Maria Mendes, Carvalho consolidou essa expressão a partir da ideia de que o realizador de Má Educação (2004) cria seu universo com base no tecido visual "vivo" estabelecido pelo melodrama clássico e suas releituras modernos, de Douglas Sirk a Rainer Werner Fassbinder. De fato, Julieta tira sua percepção da condição feminina de "lições" que o cinema do passado nos deu, potencializadas aqui por um diálogo com a literatura de Alice Munro.

 Foto: Estadão

Sem humor algum, sem bizarrices na linha do realismo fantástico ou do filão sci-fi vistas nos últimos trabalhos do diretor número 1 da Espanha, como Volver (2006) ou A Pele que Habito (2011), Julieta é apenas um painel dos acontecimentos da vida de uma professora universitária, ao longo de duas décadas e meia. Numa atuação esplendorosa, Adriana Ugarte vive a jovem Julieta e Emma Suárez (brilhante) assume a protagonista em sua idade adulta. No início, temos um clima de suspense, que logo se converte em um registro melodramático sobre a relação caudalosa de Julieta com Xoan, pescador vivido por Daniel Grao. Já no primeiro encontro de olhares, Xoan mexe com a libido da jovem.

 Foto: Estadão
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