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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Tem 'A Vida Invisível' no Corujão esta madrugada

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Fernanda Montenegro vai iluminar a sessão de cinema da madrugada na TV Globo, no elenco do premiado longa de Karim Aïnouz  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Ovacionado este ano em Cannes pelo documentário "Marinheiro das Montanhas", o cearense Karim Aïnouz vai desfilar seu talento pela TV aberta nesta madrugada, com a projeção de "A Vida Invisível" no "Corujão". A projeção será às 2h. Há dois anos, essa produção da RT Features saiu da Croisette com o Prix Un Certain Regard, consagrando seu diretor no mais prestigiado festival de cinema do mundo. Na orla cannoise, Karim já é de casa. Baseado no romance "A vida invisível de Eurídice Gusmão", de Martha Batalha, o longa tece sua estrutura a partir de uma troca de cartas entre um remetente sedento de se fazer ouvir e de um destinatário oculto. Não cabe muito explicar por que o filme faz isso. Não é da natureza de Karim explicar muito. Às vezes um corte pode fazer avançar cinco décadas, sem que nenhum preâmbulo seja feito, mas as explicações estão todas ali, nas cartas e numa forma de enquadramento (a fotografia é de Hélène Louvart, que clicou "Pina", pro Wim Wenders) capaz de traduzir em cores e focos inusitados como é o cheiro de um lança-perfume. Como é o éter na mente... eternamente inebriante. No longa de ficção mais recente do realizador de "Madame Satã" (2002), Karim mostra que as irmãs Guida e Eurídice são cúmplices no afeto, inseparáveis no dia a dia. Eurídice, a mais nova, é uma pianista prodígio, enquanto Guida, romântica e cheia de vida, sonha em se casar e ter uma família. Um dia, com 18 anos, Guida foge de casa com o namorado, um marinheiro grego, com mel no pi e no delta. Ao retornar grávida, seis meses depois e sozinha, o pai, um padeiro português conservador, expulsa a menina de casa. Guida e Eurídice são separadas para sempre e passam suas vidas tentando se reencontrar.

As irmãs Guida (Julia Stockler) e Eurídice (Carol Duarte) Foto: Estadão

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Em dado momento, a Morte flana por "A vida invisível", não como um abutre, mas sim como uma gaivota de papel. Já o território transpira no roteiro assinado por Murilo Hauser, em colaboração com Inés Bortagaray e o próprio Karim, como chapa em raio X de um Rio que se estende por Tijuca, Santa Teresa, Estácio e São Cristóvão. Um Rio de Centro, sem centro. Um Rio de octanagem lusitana, cuja imigração raramente é falada em nossos filmes (fora "Morro da Conceição", de Cristiana Grumbach, e "Portugal... minha saudade", de Pio Zamuner e Mazzaropi), mas aqui ganha uma varanda para o mar do estudo, do entendimento. Utilizando uma pantomima do dores, cansaços e perseveranças com confete, Carol Duarte e Júlia Stockler dão a Eurídice e a Guida a tridimensionalidade da educação sentimental pela navalha. Guida vem de volta, grávida, e é vetada pelo pai, com a masculinidade tóxica de quem se sente ferido na honra. Eurídice casa com o amor possível, não com o amor sonhado. E essa fratura vai ser um vetor na busca que ela faz da irmã. Detalhe importante: tem Fernanda Montenegro num trecho chave da trama.

p.s.: A leitura imperdível do momento para qualquer quadrinhófilo é "Hellblazer Especial: Lady Constantine", que a Panini Comics acaba de lançar. O roteiro é de Andy Diggle e os desenhos são de Goran Sudzuka, com cores de Patricia Mulvihill. A narrativa recria a Inglaterra de 1785, quando uma ancestral do bruxo John Constantine, feiticeira como ele, corre atrás da Caixa de Pandora.

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