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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Téchiné (dos bons) inédito na tela nesta quinta

RODRIGO FONSECA Um dos mais inquietantes realizadores da velha jovem guarda da França, revelado na segunda geração dos gênios da crítica da "Cahiers du Cinéma" e da Nouvelle Vague, André Téchiné vai dar o ar das Graças em circuito brasileiro a partir desta quinta-feira, com a estreia do poderoso "Adeus à noite", uma das sensações da Berlinale. Aos 76 anos de vida, 54 de carreira, o diretor de "Minha estação preferida" (1993) regressa ao circuito com um misto de thriller e dramalhão raspando na discussão sobre fundamentalismos políticos islâmicos. "Jamais começo um filme com um final predefinido na cabeça, pois rodo cada plano como se ele fosse um curta-metragem, com vida própria, autonomia. É na montagem que eu busco a narrativa que cadenciará aquelas imagens", disse o diretor, ao ser homenageado em Cannes, a reboque da projeção de "Nos années folles", em 2017. "Contar uma história é a última das minhas preocupações ao construir um filme: há as sensações, as reflexões, as buscas".

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Téchiné, aos 76 anos: em 1985, ele ganhou o prêmio de direção em Cannes com "Rendez-vous", coroando uma carreira iniciada em 1965 Foto: Estadão

"L'Adieu à la nuit", exibida fora de concurso na Berlinale, em fevereiro, ampara-se em uma atuação formidável de Catherine Deneuve. Ela vive uma criadora de cavalos, num rancho do interior, que recebe a visita de seu neto, Alex (Kacey Mottet Klein), para o que parece ser uma despedida. O rapaz diz a família que está indo para o Canadá. Mas Muriel, a personagem de Catherine, logo se dá conta de que há algo torto nesta história, uma vez que o jovem converteu-se ao Islã e faz disso uma bandeira de revanchismo. "Existe uma inteligência inerente ao tempo, e às cacetadas da vida, inegável nas ações dessa mulher discreta que Muriel é. Mas existe também muita tolerância em seus atos. Tolerância que dá lugar à apreensão", disse a veterana atriz em Berlim, sem jamais criticar as escolhas éticas dos signatários das causas do Islã.

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Téchiné é o primeiro a ressaltar a posição sem julgamentos morais de "L'Adieu à la nuit". "O que mais me interessa aqui é estudar as reações dessa mulher ligada à terra, ao campo, e ver como tudo ao seu redor muda. A curiosidade é saber o que ela pode fazer para salvar o neto", disse ele em Berlim.

Laureado em Cannes, em 1985, pelo brilhante "Rendez-vous", obra-prima de uma trajetória artística iniciada em 1965, o cineasta confiou à trilha sonora de "Adeus..." a Alexis Rault, que apresenta uma partitura memorável. Em sua estreia na França, o longa vendeu 100 mil ingressos, consolidando a força comercial do cineasta.

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