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É Tudo Verdade: saudades de Carvana, picardias de Neville

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
"Carvana" abriu o É Tudo Verdade no RJ com sabor de irreverência  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Êta jeito bonito de começar o É Tudo Verdade a sessão inaugural da fornada carioca da maior maratona documental das Américas, ocorrida na quinta (dia 12) numa farfalhante Cinemateca do MAM, que serviu de pista para a decolagem afetiva de "Carvana". Lulu Corrêa dirige essa carta de amor ao adorável vagabundo que nos deu "Se Segura, Malandro" e outras joias, com foco nas palavras do próprio Hugo. Trata-se de uma costura desabafos do próprio sobre o ofício de artista, a vida em família, o Fluminense e, sobretudo, o Brasil. É menos "um filme sobre Carvana" e mais "um filme com Carvana", construído na irreverência de uma edição inteligente. Lulu nos deu uma aventura (construída da argamassa do Real) sobre modos de ser brasileiro, tendo em Hugo seu protagonista. A partir dele, compreendemos (ou quase) situações típicas do país. A montagem de Rita Carvana, filha do homenageado e uma das mais criativas editoras de nosso cinema, oxigena o longa-metragem com referências aos filmes mais famosos de seu pai.

Nascido em 1937, Carvana dizia que era "um ator de câmera", por se sentir mais à vontade com a energia do audiovisual do que com a força dos palcos. Estrelou filmes seminais de nossa cinematografia, como "Os fuzis" (1964), de Ruy Guerra, e iniciou, em 1973, com "Vai trabalhar, vagabundo" uma trajetória de milhões de espectadores e dezenas de prêmios no papel de cineasta. Foi selecionado, com seu longa de estreia, para o Festival de Taormina, na Itália, onde ganhou o prêmio principal. Levou ainda o Kikito de Melhor Filme em Gramado, em 1974. Na TV, fez personagens antológicos, entre eles o lendário repórter Valdomiro Pena da série "Plantão de Polícia" (1979) e o milionário Lineu Vasconcelos de "Celebridade" (2003-2004).

 Foto: Estadão

Se a arrancada do É Tudo Verdade se deu pela leveza de Carvana, sua continuidade vai se dar, nesta sexta-feira, pela picardia de Neville d'Almeida. Ele é o objeto de estudo e da reverência à ousadia do crítico de cinema Mario Abbade, que estreia na direção filmando o condimentado "Cronista da Beleza e do Caos". Obsessivo em suas pesquisas sobre fatos históricos do audiovisual, Abbade demonstra uma retidão invejável na filtragem das bizarrices inerentes ao histórico de loucuras de Neville, um campeão de bilheteria ("A Dama do Lotação", "Os Sete Gatinhos") que pagou caro por sua liberdade poética. Há, na direção, um esforço de partir dos feitos do cineasta mineiro para discutir a censura (política e moral) no Brasil. Mas há, em primeiro plano, um carinhoso cuidado com o imaginário erotômano que Neville produziu em seu auge nas telas. É um doc com sabor de espetáculo, aclamado em sua passagem pelo Festival de Roterdã.

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