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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Saltimbanco do Brasil

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

RODRIGO FONSECA - #FiqueEmCasa Didi Mocó existe? Essa é a pergunta que poderíamos fazer, da mesma maneira como a menina Virginia O'Hanlon Douglas, filha de um médico da Nova York do século XIX, fez em 1897, ao escrever para o jornal "The Sun" perguntando: "Papai Noel existe?". A resposta do editorialista: "Sim, Virginia, o Papai Noel existe, assim como existem o amor e a generosidade". Talvez o ceticismo dos tempos de hoje questione qual seja o lugar de um mito do heroísmo pícaro infantil, uma espécie de Homem de Ferro da resiliência, um Rocky Balboa nordestino, que carrega nas luvas a força do Ceará. Mas bastam poucos minutos de "Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood", com seu encanto de meninice, para que se afirme, em alto e bom som: "Sim, Didi Mocó existe dentro de cada um de nós, brasileiros, que acreditamos na força de nosso país". Às 14h50 desta terça, a "Sessão da Tarde" abre sua ribalta para ele e seu "cavalo" alado, Antônio Renato Aragão, adorável trapalhão, irmão Grimm do Brasil.

Nota-se brilho já na abertura, na qual Seu Aragão vai à festa do Oscar, nos EUA, buscar uma estatueta para Didi Mocó. Qualquer detalhe que se dê sobre ela é um convite a spoilers: o ideal, durante a transmissão deste poético exercício de lirismo do diretor João Daniel Tikhomiroff, é sacar quem está na plateia, quem apresenta os prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e, em especial, como se faz a locução dela. É uma crítica abrasiva num filme pautado pela doçura e pelo lirismo, que presta um tributo ao Cinema e ao Circo ao revisitar o clássico de Josip Brogoslaw Tanko (1906-1993): "Os Saltimbancos Trapalhões" (1981). Aliás, não se trata de um remake e sim de um exercício de "revisitação", repaginando situações e personagens, mas preservando o mesmo ambiente e a mesma premissa. Mesmo Didi não aparece com o perfil chapliniano padrão: o vagabundo errante de antes agora virou um autor, com a missão de escrever um musical para salvar o picadeiro que sempre chamou de seu. Apoiado no roteiro de Mauro Lima (diretor do sucesso "Meu Nome Não é Johnny"), "Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood" é uma espécie de "Amarcord" de Aragão: se você não conhece a palavra, ela se refere ao título de uma obra-prima de Fellini, autorrevisionista, calcada numa palavra de um dialeto de Rimini que significa "eu me recordo". É um "Amarcord" uma vez que permite a este mito - o maior mito vivo do Brasil na telona - mergulhar em suas próprias memórias cinematográficas, usando-as não como um documento de época, mas como matéria-prima de sonho. A partir de um resgate do clássico de Tanko e da peça homônima dele derivada em 2014, cria-se um novo e lúdico produto, calcado numa aventura de Didi para manter seu circo de pé. A luta dele tem um algoz bem definido, o Prefeito Gavião, defendido pelo ladrão de cenas Nelson Freitas, que cria um vilão deliciosamente caricato.

 Foto: Estadão

As músicas que marcaram gerações estão todas lá, com arranjos novos. Mas Meu Caro Barão ainda faz chorar como antes. Vale lembrar que Renato e sua mulher, Lilian Taranto Aragão, hoje roubam risadas e suspiros no Instagram, com divertidos posts. p.s.: Nesta quinta, às 14h, o Canal Brasil inicia a mostra "Vidas Negras Importam", com os filmes "A última abolição", "O caso do homem errado", "Nóis por nóis" e "Eu não sou seu negro".

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