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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Sábado tem maratona Bergman no Telecine

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Ingmar Bergman (1918-2007) Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Sábado agora, dia 30 de julho, o Telecine Cult vai enveredar por terras escandinavas numa maratona em homenagem ao sueco Ingmar Bergman (1918-2007) que começa às 16h50, com "Morangos Silvestres"(Urso de Ouro de 1957); e segue às 18h35, com "O Sétimo Selo" (Prêmio Especial do Júri em Cannes há 65 anos). Vai ter (a obra-prima) "Persona - Quando Duas Mulheres Pecam" (1966), às 20h25, rolando a bola, às 22h, para "Face a Face" (1976), que rendeu indicação ao Oscar de Melhor Atriz para Liv Ullmann. Para o encerramento, à 0h25, vai ter "Sonata de Outono" (1978), que ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro. É um programão pro fim de semana, que passa a trajetória de um gênio em revista. Entre 1946, com o lançamento do filme "Crise", e 2003, quando o teledrama "Saraband" começou a circular por TVs e cineclubes, o Cinema deitou-se num divã sueco para um trabalho de análise da moral, da fé e do amor. Trabalho esse apoiado numa troca simbólica com o diretor que pôs a alma humana no centro da câmera.

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Numa queda de braço com nosso superego, na triagem das neuroses que levam à brutalidade e ao desamor, Bergman rodou reflexões autorais sobre a existência que se tornaram marcos da arte de filmar, como "Morangos Silvestres" (1957), laureado com o Urso de Ouro do Festival de Berlim. Ele dirigiu cerca de 70 produções, entre TV e cinema, em 57 anos de ofício. Nesse período, um punhado de longas dele ganharam status de obra-prima, como "O Sétimo Selo", também de 1957. No recente longa-metragem "A Ilha de Begman" ("Bergman Island"), da francesa Mia Hansen-Løve, produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, entendemos mais sobre o modo de Ingmar enquadrar, de dirigir atores, de iluminar cenas e de esgarçar as fronteiras filosóficas da dramaturgia, baseado ora num preceito, ora numa sensação.

Liv Ullmann e o cineasta sueco nos sets de "Sonata de Outono" Foto: Estadão

O preceito do diretor sueco: "Eu faço filmes com meus amigos mais queridos. Tenho 18 que cabem nessa categoria. Eles são a minha equipe, nada mais. (...) Eu vivo numa ansiedade sem causas tangíveis e, para me aliviar dela, eu preciso filmar". Entre as principais inquietações de Bergman, destaca-se a Finitude. Além dela, seus filmes se preocupam em discutir a presença de Deus, a agonia do existir, solidão, a fragilidade das convenções sociais e as incongruências da vida a dois. Deste último tema, ele extraiu um fenômeno midiático: "Cenas de um Casamento", recriado recentemente com Jessica Chastain e Oscar Isaac, sob a direção do israelense Hagai Levi.

Bergman ganhou um Globo de Ouro por empreitada ligada a vida de casais, uma das muitas honrarias douradas em seu currículo. Filho de um pastor protestante, nascido em Uppsala (a 70km a norte de Estocolmo), o diretor - que teve seu primeiro acesso a um projetor de imagens ainda menino, trocando uma dezena de soldadinhos de chumbo com seu irmão por aquela "lanterna mágica" - ganhou um Oscar honorário (o Irving G. Thalberg, dado em 1971), o Leão de Ouro Especial do Festival de Veneza, em 1971, e a Palma das Palmas do Festival de Cannes, em 1997. Vale lembrar que não foram os franceses (garimpeiros de autoralidades, como Hansen-Løve) que descobriram Seu Ingmar: sua consagração aconteceu a partir do Festival de Punta del Este, no Uruguai, em 1952, de onde o filme "Juventude", partiu para conquistar plateias sul-americanas, despertando atenções de jornalistas europeus aqui residentes. A partir daquele evento em Punta, críticos brasileiros como Ely Azeredo promoveram a potência estética de Bergman entre nós, contribuindo, à força de resenhas apaixonadas, para o êxito nacional de "Sorrisos de uma Noite de Verão" (1955) e "Noites de Circo" (1953). Numa de suas últimas entrevistas, antes de sair da cena mortal, em 30 de julho de 2007, Bergman falava muito da decadência da matéria, mas com sabedoria. "Aprendi que posso dominar as forças negativas e usá-las a meu favor", disse ele. Sua partida deixou órfãos muitos cineastas que nele se inspiravam, entre os quais o alemão Wim Wenders, que afirmou a jornais germânicos: "Sem Bergman, perdemos a Luz".

p.s.: Nesta sexta, a "Sessão da Tarde" empresta suas telas ao delicioso "Shrek 2", que brigou pela Palma de Ouro em Cannes em 2004.

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