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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Rojo': veias argentinas rasgadas

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

Rodrigo Fonseca Duas diretoras, Romina Paula e Paula Hernández - a primeira é responsável por "De nuevo outra vez"; a segunda, por "Los sonámbulos" -, vão invadir o Festival de San Sebastián, de 20 a 28 de setembro, em solo espanhol, para oxigenar a mostra competitiva Horizontes Latinos em nome de seu país, a Argentina, que brilhou no evento hispânico em 2018, com "Rojo", uma coprodução com o Brasil. É um projeto de integração entre nosostros, hermanos, pelas feridas abertas da ditadura militar, que chega nesta quinta-feira ao circuito brasileiro, com o título de "Vermelho Sol". Velho conhecido dos brasileiros por sucessos de Almodóvar como "Fale com ela" (2002) e "Julieta" (2016), além de ter participado de "Relatos selvagens" (2014), o argentino Darío Grandinetti empresta a austeridade que faz dele um dos mais disputados atores da cena teatral de Buenos Aires e de toda a indústria audiovisual de seu país a esse thriller. A direção é de Benjamin Naishtat. Sua trama é fotografada pelo pernambucano Pedro Sotero (de "Aquarius"), que surpreendeu Cannes este ano com seu trabalho em "Bacurau". O longa deixou o San Sebastián, no ano passado, com um balde de prêmios. Benjamin levou o de melhor direção; Sotero, o de melhor fotografia; e Dario, o de melhor ator. Sua projeção em Toronto também foi consagradora, com elogios sobretudo para uma apoteótica sequência de um eclipse, retratada em tons rubros.

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"No cartaz argentino do filme há uma frase: 'Quando todos se calam, ninguém é inocente', mostrando que há um elemento político de distorção no silêncio que pontua essa narrativa fotografada pelo Sotero com elementos dos filmes de Sideny Lumet, de Sam Peckinpah e de 'A conversação' de Coppola", disse Naishtat ao P de Pop, no Festival do Rio 2018. "É um olhar para as idiossincrasias do ódio que se manifestam no medo da classe média de perder o que tem".

"Benjamin é um diretor muito objetivo em seus desejos, que me deu, além do roteiro, uma série de fotos de época que serviram de referência, numa pesquisa que nos levou a clássicos do cinema policial americano dos anos 1970", disse Sotero ao Estadão.

 

A secura hiper-realista à moda Sam Peckinpah e a explosão de vermelho que dá nome ao filme se manifestam nas transformações pelas quais a rotina do advogado Claudio (papel de Grandinetti) passa após uma acalorada discussão em um restaurante. Estamos na Argentina dos anos 1970. E a briga, por conta de uma mesa em um restaurante, revela sutilmente uma tensão política. Esta vai explodir quando Claudio visita uma casa que um amigo pretende comprar e vê sinais de violência e sangue no local. A presença de um detetive interessado em saber o rumo da vida de Claudio amplia a paranoia.

"A ideia era de que essa conjuntura política fosse entendida pela lógica do cinema policial", diz Naishtat. "Nosso interesse era retratar o início do horror estatal, a ditadura, na Argentina".

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