Ainda podemos esperar surpresas da Primavera Romena, talvez o mais consistente movimento estético revelado pelo cinema nos últimos 15 anos, que tomou Cannes de assalto a poucos minutos desta quarta-feira, abrindo ao disputa pela Palma de Ouro de 2016 com Sieranevada, de Cristi Puiu. Foi um balde de aplausos, mas também deu debandada. São quase três horas de falação. A trama: Lary (Mimi Branescu) vai se reunir com seus irmãos, primos e tia para celebrar a honra do pai morto. Entre pratadas de polenta com frango frito, segredos de seu pai e de um tio trapalhão são revelados ao mesmo tempo em que uma jovem visita agoniza por excesso de álcool (e outras coisinhas). Trocas de acusações e verdades dolorosas se alternam com piadas e comentários sobre a falta de perspectiva financeira daquela nação. Tudo se passa no âmbito da instituição família, numa estrutura que evoca Nelson Rodrigues.