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'Praça Paris', o 'low point' do cinema autoral em 2018

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Grace Passô e Digão Ribeiro em "Praça Paris" Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Entra em cartaz nesta quinta a deslizada mais feia do cinema autoral brasileiro na poça do esquematismo: o drama Praça Paris, que tem chamado atenção em festivais pela sacada que teve em escalar como protagonista uma das maiores revelações do teatro nacional no momento, Grace Passô. Ela ganhou o Troféu Redentor na Première Brasil de 2017 por seu desempenho. Ao lado dela, aprece um outro achado: Digão Ribeiro, que ocupa (e ilumina) a telona não por seu corpanzil, mas por seu carisma e por sua inteligência cênica. Não há fresta que Grace Digão não iluminem nas vielas do Rio de Janeiro esquadrinhadas pela diretora Lucia Murat em cenas que soam forçadas, como a de uma tortura um tanto caricata, e das alfinetadas nos legados da UPP. Embora engasgado num determinismo sociológico datado (meio anos 1970), típico da obra da Lucia (caso do equivocado Maré, Nossa História de Amor), o filme se faz necessário por múltiplas razões, sobretudo por seu carinho com o lugar político da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a UERJ, e pela reflexão sobre a cena carcerária carioca. Neste ponto, a cineasta mostra a maestria (de mundo e de meios) com a qual já havia produzido o perturbador Quase Dois Irmãos, de 2004. Uma maestria há tempos perdida. E há um tom de thriller psicológico, que redesenha e redefine o filme lá pelo fim e que se alimenta, bastante, do talento dramatúrgico (como roteirista) de um dos mais provocativos escritores do Brasil hoje: Raphael Montes (de Dias Perfeitos). Ele escreve o filme a quatro mãos com Lucia, oxigenando de ideias uma narrativa que se emperra numa montagem um tanto deslocada, emperrada.

 

Grace, da peça Vaga Carne, desenha uma nova instância de representação de mulher da periferia no papel de Glória, uma ascensorista cujo irmão é um chefe do tráfico e cumpre pena sob o olhar atento da Polícia. Ela extravasa os nós do peito falando prum pastor (Babu Santana, sempre no ponto) e para uma jovem psicanalista que faz seus estudos de pós na UERJ, a jovem portuguesa Camila (Joana de Verona). Digão entra como Samuel, o motoboy que mexe com a libido de Glória. Espera-se uma relação especular entre ela e Camila, mas o filme não estabelece essa parelha com harmonia. Temos duas mulheres que se confrontam no olhar. Mas, apesar do talento inequívoco de Joana, é Grace quem vai desenhar as curvas de ação, deitando e rolando nos hiatos morais de Glória, fazendo dela uma personagem única.

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