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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

O projeto inacabado de Babenco

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

RODRIGO FONSECA

Sobrou uma premissa não filmada no legado de Hector Eduardo Babenco (1946-2016), como ideia inacabada para um filme que marcaria sua volta ao mesmo Rio de Janeiro onde seu blockbuster nº1, Lucio Flavio, O Passageiro da Agonia (1977), fincava as suas raízes: um argumento chamado Cidade Maravilhosa. Neste, assuntos como turismo em favelas e figuras como um ex-lutador de MMA chafurdado no fracasso se misturam em uma radiografia da Babel carioca. Faltou este filme. Ficou esta lacuna. E saudades.

 Foto: Estadão

Mestiço de duas nações, mascate de muamba boa, maestro de imagem em ação, menino de olhos portenhos, mito de brasilidades marginais, Babenco foi de um tudo nesta vida, indo de figurante em spaghettis à italiana a diretor indicado ao Oscar. Marcou gols em muitas áreas do verbo viver, driblando adversários dos mais belicosos, da censura fardada dos anos 1970 ao linfoma com quem guerreou armado de oncologia e muita coragem. Venceu em Locarno, concorreu em Cannes, brilhou em Hollywood, dirigiu titãs como Meryl Streep, Jack Nicholson e Willem Dafoe, pôs Tom Waitts pra atuar, ganhou fãs, virou tema de teses, viu a cara da Morte e voltou para contar como ela se parece. Foi da Terra ao Céu, com passagens pelo Inferno, aliás os muitos infernos com "i" minúsculo que o conceito de exclusão social comporta. Foi e é: realizador dos grandes, pedaço indelével da História da América Latina em sua marcha para o Oeste e para o Leste do imaginário cinéfilo. Converteu-se em brasileiro, por via de um processo legal de naturalização, para poder falar das patologias de seu país de adoção com propriedade, atraído pelo fascínio do Mal representado não pelo crime, mas pela Justiça. Seu B de Babenco é consoante que se faz essencial nos dicionários de cinema do mundo todo. Mas por trás da assinatura, por trás da grife construída à força de sucessos que marcaram época - seja na ala dos blockbusters (Carandiru), seja na ala da inquietação existencial frente ao horror da violência (O Beijo da Mulher AranhaPixote, a Lei do Mais Fraco) - existe um homem com histórias outras que não as que viraram filme, as que viraram manchete de jornal, as que viraram sonho. Até peça fez, e bem: encenou Loucos de Amor, Closer - Mais Perto, Hell e Vênus em Visom sempre com prestígio da crítica - coisa rara para diretores de cinema metidos a fazer teatro. Mas a gente perdeu este mestre. Seu velório acontece nesta sexta, de 10h às 15h, na Cinemateca Brasileira. A cerimônia fúnebre celebra o homem que deu uma repaginada no realismo social no cinema brasileiro, imprimindo nas telas um neo-Neorrealismo latino.

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