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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'O Pai da Rita' no Festival do Rio na TV

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
"O Pai da Rita" Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Está rolando um novo casamento entre o Festival do Rio e a Rede Telecine. O casório tem direito a uma série de achados das competições de Veneza ("O Contador de Cartas", de Paul Schrader, agendado pra quarta) e de Berlim ("Rabiye Kurnaz vs. George W. Bush", na quinta; e "Noites de Paris", no sábado). Entra um filme por dia, no Globoplay, às 10h. Para o encerramento, no domingo, vai rolar "O Pai do Rita", de Joel Zito Araújo, que será homenageado no Festival de Gramado nº 50, que vai de 12 a 20 de agosto. Essa delícia de comédia será exibida no Telecine Play, no dia 24, às 22h, e estará no streaming da Globo. Preciso qual relógio suíço na intriga que guia seus personagens, "O Pai da Rita" cimenta uma estrutura de ação sólida. E o faz para, pouco a pouco, sequência a sequência, em um esmeril existencialista de protagonistas, desapegar-se dela e se concentrar numa (potente) etnografia da amizade. Há um desafio a ser transposto pelo trio central que move a trama. De um lado, temos Rita (Jéssica Barbosa). Ela quer saber quem é seu pai biológico. Do outro, temos potenciais candidatos a esse posto, Pudim (Ailton Graça) e Roque (Wilson Rabelo). Os dois são sambistas que lembram Walter Matthau e Jack Lemmon (respectivamente) em "Um Estranho Casal" (1968). Eles têm que se adaptar à realidade paterna e a toda uma transformação moral do mundo onde fincaram raízes. Mas isso é apenas o esqueleto (bem) erguido pelo roteiro de Di Moretti (de "Cabra-Cega"), a partir de um argumento de Joel Zito. Uma vez em riste uma espinha dorsal de conflitos, a fim de saciar a fome de catarse da plateia, o diretor responsável pelo seminal "A Negação do Brasil" (2000) lança mão de seu ferramental como documentarista para mapear a arena dramatúrgica à sua volta. Nela, ele vai explorar modos de amar, lealdades, deslizes, riscos e rabiscos do cotidiano do bairro do Bexiga. O resultado é uma Comédia Humana balzaquiana comovente, que afirma a identidade autoral de seu realizador, ao celebrar a potência das populações negras na luta antirracista.

 Foto: Estadão

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Explode na telona (e, agora, na telinha) a delicada fotografia de Lauro Escorel, um artesão da luz capaz de combinar elegância e despojamento numa alquimia ímpar. Merece destaque ainda um dono de boteco cheio de inquietações amorosas, vivido por Francisco Gaspar, num show de carisma. É difícil entrar nesse universo sem lembrar do Hugo Carvana (1937-2014) de "Bar Esperança" (1983) e do Waldir Onofre (1934-2015) de "As Aventuras Amorosas de um Padeiro" (1975). Ambos olhavam a periferia como macrocosmos de afetos.

p.s.: Nesta segunda, às 22h50, a "Tela Quente" exibe o sucesso "Superação: O Milagre da Fé", um filme evangelizado de 2019, com Chrissy Metz.

p.s.2: Vem aí filme sobre um pilar da música da Antiguidade no Brasil. Nestas bandas, o périplo histórico da cultura renascentista se confunde com a trajetória pessoal de Roberto de Regina, um maestro de 95 anos que construiu o primeiro cravo em solo nacional. Com o instrumento, ele reintroduziu a música da Antiguidade no país. Foi também o primeiro artista a gravar discos brasileiros com repertório do cravo com respaldo de Heitor Villa-Lobos, chegando a ter mais de 25 álbuns e cinco DVDs gravados. Médico anestesista por mais de 30 anos, o cravista construiu a Capela Magdalena em Guaratiba, no Rio de Janeiro, nos moldes dos castelos europeus, transportando toda a atmosfera do século XVIII para os dias atuais. Além de músico, pintor, artesão e luthier, Roberto de Regina ainda montou cerca de 500 maquetes e miniaturas exibidas em seu museu particular. Agora, a trajetória dessa lenda viva musical vai virar um documentário, dirigido por Luiz Eduardo Ozório e produzido pela OZ Films, coproduzido pela Multiphocus Filmes e a Janeiro Filmes. "É um filme artístico, com uma narrativa de cinebiografia. Estamos usando apenas luz de velas na iluminação para manter a atmosfera barroca", conta o diretor. O projeto se chama "O Cravista" e será produzido em formato híbrido e as filmagens em Guaratiba já começaram. Nesta quinta, dia 21, a produção irá filmar na Sala Cecília Meireles a apresentação do Coro da Camerata Antiqua de Curitiba, que vai celebrar os 95 anos de seu maestro e fundador. O lançamento está previsto para 2023.

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