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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

O circo cinematográfico de 2017

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Mariana Ximenes embelezará o cinema nacional com atuação inflamada em O Grande Circo Místico: Cacá Diegues em estado de graça Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca

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Chegamos ao fim de um ano de pesado "carrego" para o cinema nacional, por uma série de tropeços comerciais e tumultos estéticos, mas olhamos pro Amanhã com uma mirada esperançosa. No mínimo, nós temos uma certeza de prazer assegurada à frente: um dos mestres do Cinema Novo, o alagoano Carlos Diegues lança no ano que vem seu melhor filme desde Bye Bye Brasil (1979): O Grande Circo Místico. É de uma poesia singular, na lida com a imagem e com o Tempo, e extrai da alma de Mariana Ximenes um bicho exótico que rosna e encanta. Fora o trabalho de Cacá, temos em vista Benzinho, que a atriz Karine Teles e o diretor Gustavo Pizzi levam agora em janeiro a Sundance e a Roterdã. O doc Bixa Travesti, de Claudia Priscila e Kiko Goifman, já escalado para a Berlinale é uma promessa de encanto no debate de nosso Real.

Mad isso tudo dá conta do que virá, não do que passou. O ano foi assim...

Cássia Kis Magro no melhor filme do FESTin 2018  Foto: Estadão

Apesar de ter aberto as portas de 2017 com um dos mais rentáveis blockbusters de toda sua história (Minha Mãe É Uma Peça 2, visto por 9 milhões de pagantes), o cinema brasileiro viveu dias e noites amargos de janeiro a dezembro do ano que passou, vendo produções talhadas para o sucesso serem esnobadas pelo público. Houve uma bem-vinda alegria no cenário infantojuvenil, com o êxito surpreendente da aventura D.P.A. - O Filme, derivada da série para crianças Detetives do Prédio Azul. E houve a boa repercussão de um exercício de humor popular varejão com DNA cearense, mas cenário paulistano: Os Parças. De quebra, o clube de longas-metragens que furaram a margem do milhão, na venda de ingressos, inclui um thriller político de bom ritmo de ação: Polícia Federal - A Lei É Para Todos. De resto... um quilo de projetos desenhados para brilhar ficou bem abaixo do esperado. Curiosamente, na seara da vitrine internacional, o Brasil brilhou nos grandes festivais, com prêmios em Roterdã, Berlim, Cannes, Locarno, Cinéma Du Réel e Fantasporto. Lá fora fomos aplaudidos por joias como Joaquim, que brigou pelo Urso de Ouro, e Gabriel e a Montanha, agraciado com láureas em sua passagem pela Croisette. E vimos uma experência de gênero - o genial filme de lobisomem As Boas Maneiras - ser saudado na Europa e na Ásia com elogios e troféus neste ano de consagração do terror.

Maria Ribeiro tem a atuação mais surpreendente de sua carreira em "Como Nossos Pais" Foto: Estadão

Vimos ainda um aumento de fôlego na presença de mulheres na direção, sendo que este boom da afirmação do Feminino tem em Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky, um estandarte de sua potência. Trata-se um dos mais sólidos retratos da angústia de uma jovem (Maria Ribeiro é a atriz em estado de graça) já feito em nossas telas. Foi um sopro de prazer num ano duro.

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Se formos elencar o que se fez de pior, esse título vai para o release fantasiado de documentário O Jardim das Aflições. Se o assunto for o nosso melhor exercício estético, o filme nacional mais possante do ano foi Redemoinho, que marca a estreia do diretor de TV José Luiz Villamarim no cinema. Aliado ao texto existencialista do roteirista George Moura e à fotografia de Walter Carvalho (que nos brindou com o .doc Um Filme de Cinema), Villamarim desce às raias do inferno moral das Minas Gerais para falar de uma amizade despedaçada. Curioso é ver a força que MG vem tomando em nossas telonas, vide Nada, Baronesa e Arábia.

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