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'Narcos' à francesa, thriller com Jean Dujardin renova o combustível da ação nas telas

Oscarizado por "O Artista", Dujardin vira herói em "Conexão Francesa": ele é um juiz contra a máfia da droga

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

RODRIGO FONSECA

Terra do polar, derivação do gênero policial feita a partir de uma releitura europeia das cartilhas americanas dos bangue-bangues de tira vs. ladrão, a França trata o cinema de ação com um respeito que não se deixou envenenar pelo fel do politicamente correto, apostando em narrativas de vertigem como Conexão Francesa (La French). Foram 1,4 milhão de ingressos vendidos apenas nas bilheterias francesas, à força do carisma de Jean Dujardin (Oscar de melhor ator por O Artista) em um contexto de violência sob os acordes da Era Disco, numa revisão da década de 1970. Candidato de fôlego ao posto de melhor thriller a chegar em nossas telas em 2016 - isso até Assassino a Preço Fixo 2: A Ressurreição chegar, no dia 6 de outubro -, o longa-metragem dirigido por Cédric Jimenez estreia aqui nesta quinta e é uma espécie de versão europeia dos fatos narrados no cult Operação França (1971), de William Friedkin, oscarizado com cinco estatuetas. Lá, havia Gene Hackman no papel de Popeye Doyle, detetive numa cruzada contra os narcóticos egressos de Marselha. Aqui Dujardin dá vida ao incorruptível Pierre Michel, juiz que deflagrou uma caça aos exportadores de cocaína.

 Foto: Estadão

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Não há que se comparar - qualitativamente - os dois longas, pois eles não competem, e sim estabelecem uma relação complementar. O de Friedkin era uma charge, feita no ato dos fatos, com uma carga de urgência e uma textura moderna, rompendo com os cânones do policial por um gesto moderno, de recusa ao lugar comum e de reciclagem da tradição. O de Jimenez é um gesto mais pós-moderno: cheio de cortes, clipado e estruturado como uma montanha-russa sensorial, ele busca um certo senso épico na tentativa de revisitar o passado a partir de seus sintomas mais pop. Ou seja: aqui, o referencial da direção não é o Real em si, mas o ethos e as imagens que o cinema e a música celebrizaram daqueles anos de ressaca.

Mais reconhecido como produtor do que como cineasta, Jimenez surpreende pela condução das sequências de perseguição e de tiroteios, estabelecendo uma teia de personagens dos dois lados de uma Lei corrupta, na qual Pierre Michel é exceção de honestidade. Por sorte, o diretor arranca de Dujardin uma atuação menos risonha e mais amargurada, criando um vigilante de toga refém do sistema - o grande vilão.

 Foto: Estadão

Mas há uma espinha dorsal maniqueísta para oferecer ao público um vilão contra quem torcer: o traficante galã Gaëtan Tany Zampa, vivido por Gilles Lelouch com um charme cafajeste contagiante. Ele e Michel são opostos da moeda, num jogo fílmico de rivalidade capaz de evocar o cult Fogo contra Fogo (1995), de Michael Mann. O ódio deles encobre uma estima mútua, num gato e rato que cresce na tela à força de uma montagem temperada de adrenalina.

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