Rodrigo FonsecaExcitar é o verbo de ação por trás dos planos filmados ao longo de 52 anos de cinema por Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, cujos curtas e longas-metragem seguem a estética da provocação... assim como seus poemas, que, sazonalmente, brotam não em salas escuras, mas em livrarias. Nesta quarta, dia 13/12, ele tira mais uma fornada quente do forno - a mais quente, talvez, de sua escrita em versos, dado o teor (homo)erótico de suas trovas, seus estribilhos, suas rimas, seus gemidos - em forma de antologia. De um requinte plástico singular em sua editoração, a começar pela capa do pintor Victor Arruda, o livro se chama Reis de Paus e sai pela Ed. Mariposa Cartonera (que trabalha com materiais reciclados). Quem quiser prestigiar o diretor de O Princípio do Prazer (1978), basta pintar amanhã no Gabinete de Leitura Guilherme Araújo, na Rua Redentor 157, em Ipanema, esquina da Garcia D'Avila. Lá serão lidos exercícios de desejo tais como:
"Impedimento
coxas cabeludas
nervos músculos
suam pelas pernas
na disputa
choque do macho
contra o macho
zebu e búfalo
no chão o menino padece
puro Édipo
escorre a gosma da boca
cuspe e cheiros
suas ceras e seu chorume
de virilha
mas gozam juntos
todos os Infantes
na travessia dos mares
desse campus"
Ou
"UFC
como um gladiador,
esfrega-se no contido ódio
de seu par
para afastar o desejo
abusa da máscara inconsútil e super atuada
daqui desta arena, milhões
de dólares vos contemplam
a marca do tênis,
o talco para os pés"
Segundo Bigode, "este livro muda o rumo da minha poesia, antes comprometida com influências da chamada Geração de 45, e a insere agora em uma necessária contemporaneidade. O processo foi iniciado em 2013, sem a intenção de ser um livro. Movido pela imagem de um jogador de futebol nu, no vestiário, escrevi o primeiro poema. E depois vieram outros, com a temática do jogo , que é altamente erotizado. Inconscientemente ele ficou pronto numa hora de ameaças à liberdade de expressão e me pareceu oportuno lançá-lo", diz o cineasta. "Que seu lançamento seja um ato político. Meu cinema é a continuidade da minha poesia escrita... assim como Pasolini não dissociava sua literatura de seus filmes , como expressões da mesma fonte".
Este ano, Bigode lançou o drama à mineira Introdução à Música do Sangue, seu melhor filme em anos.