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Mosaico egípcio: CCBB revê o cinema de Mohamed Khan

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Mohamed Khan, um mestre do realismo no cinema do Egito, ganha homenagem póstuma no Brasil com retrospectiva que vai até 26 de junho no CCBB do Rio  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA

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Dono de uma filmografia esmerilhada pelo Real ao focar no cotidiano de um Egito que transcende seu misticismo, e vai além de suas pirâmides, o cineasta Mohamed Khan (1942-2016) pintou um retrato crítico da pluraridade cultural de seu país, expresso em longas-metragens como Antes do Verão (2015), trama sobre a relação entre pessoas de diferentes classes sociais. Esta produção será exibida nesta quarta-feira, às 19h, na mostra Cinema Egípcio Contemporâneo, que segue até o dia 26, revendo os trabalhos mais marcantes de Mohamed. A retrospectiva começou no dia 14 e trouxe ao Brasil marcos como Klephty (2004), com projeção nesta quinta, às 19h. A fim de abrir um panorama mais amplo da obra do cineasta, o CCBB trouxe ao RJ sua mais fiel parceira - de vida e de criação - Wessam Soliman, viúva de Mohamed e roteirista de alguns de seus filmes como A Menina da Fábrica (com sessão neste sábado, às 17h); Meninas do Centro (com sessão nesta quinta, às 17h); e No Apartamento de Heliópolis (um dos títulos de abertura do evento). Na entrevista a seguir, ao P de Pop, por e-mail, Wessam analisa a busca estética de seu companheiro.

 

Como a senhora avalia o lugar da mulher na obra de Mohamed? Como ele encarava o Feminino?Wessam Soliman: O diretor Mohamed Khan sempre escolheu pessoas de classes mais esquecidas, excluídas da sociedade e fez um close up destes personagens. Isso foi o seu diferencial - o ser humano, as pessoas. Não é o local, o tempo mas a partir do personagem que começa o filme. E, nos seus filmes, o papel principal é sempre o de uma mulher.

"A Garota da Fábrica": cult  Foto: Estadão

Como a senhora definiria o Egito de Mohamed e sua habilidade de driblar as representações míticas e místicas de seu país? Quem seriam os faraós do Egito atuais no olhar de Mohamed?

Wessam Soliman: O Egito de Khan é a cidade grande, com seus segredos, com suas complicações. Ele sempre procurou as chaves e as senhas desta cidade para conseguir abraçar e aproximar mais. O único filme que ele fez fora da cidade foi Saiu e Não Voltou, mas também foi um filme sobre a cidade, sobre fugir dela. Os faróis do Egito atual no olhar de Khan são as pessoas normais, simples, do dia a dia. Elas são a continuação dos faróis antigos. Em seus filmes não tem ninguém famoso, conhecido. A única exceção deu-se em Dias de Sadat, sobre a vida presidente egi?pcio Anwar Al Sadat. Mas ele fez esse filme porque o seu amigo de toda a vida, o ator Ahmed Zaki, pediu para ele fazer.

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Como a senhora avalia a relação do cinema de Mohamed com o Real, a partir das técnicas mais próximas da estética documental que marcam seus filmes? Wessam Soliman: O cinema de Khan é real, ele usa técnicas documentais para fazer isso. E a única em comum em seus filmes são as ruas. O crítico Samir Farid definiu o trabalho de Khan dizendo que você consegue acompanhar as mudanças nas ruas do Egito a partir dos filmes de Khan, desde o primeiro até o seu último filme. Você consegue perceber as mudanças nas ruas dentro do drama do filme.

"Klephty": quinta no CCBB  Foto: Estadão

Qual é o maior desafio de manter a obra de Mohamed viva?Wessam Soliman: Isso envolve a questão da manutenção do cinema dentro do Egito, de manter o arquivo dos filmes antigos, as cópias não só de Khan, mas também de outros diretores. A apresentação destes filmes para as novas gerações é a chave para manter a obra deles viva. A produção do cinema no Egito tem algumas falhas e estamos tentando nos adaptar às mudanças da tecnologia dos filmes digitais.

 

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