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Mohamed Hefzy faz balanço do Festival do Cairo

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Mohamed Hefzy é um dos mais prolíficos produtores do cinema árabe e preside o Festival do Cairo Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Encerrado no domingo com a vitória do longa-metragem mexicano "El Hoyo En La Cerca", no qual o diretor Joaquin del Paso denuncia preconceitos de classe, o 43º Festival do Cairo fluiu sob as bênçãos de Osíris graças aos empenhos de seu presidente, o roteirista Mohammed Hefzy, hoje encarado como um dos mais prolíficos produtores do cinema árabe. Nos últimos minutos do evento, Hefzy encontrou uma folguinha para conversar com o Estadão sobre a equação financeira do cinema egípcio contemporâneo, dimensionando volume de produção e orçamentos de longas.Como você avalia a atual produção cinematográfica egípcia em termos de quantidade e qualidade? Ou seja, quantos longas-metragens egípcios são rodados e distribuídos por ano? Quanto, em média, custa um longa-metragem em seu país? O preço muda se for uma narrativa mais comercial? Mohammed Hefzy: Tivemos um grande ano em 2019, talvez o melhor que tivemos, em número de filmes, da qualidade dessa produção e da bilheteria. Mas, com a covid-19, as coisas mudaram. As coisas estão voltando para o lugar agora. O custo médio de um longa varia entre US$ 1 milhão, US$ 1,2 milhão, mas há filmes que custam mais. Produções mais comerciais costumam ser mais caras. Os títulos de baixo orçamento custam cerca de US$ 600 mil. Filmes de ação e comédias são os gêneros que se saem melhor. Estamos produzindo e lançando atualmente cerca de 40 filmes por ano, com a exceção de 2020, por conta da pandemia.Quanto o Festival do Cairo pode ajudar a indústria egípcia a conquistar novas vertentes criativas a partir do encontro com outras cinematografias? Que espaço o cinema do Egito ocupa hoje no festival? Mohammed Hefzy: A relação do cinema egípcio com o Festival do Cairo está crescendo. No passado, a presença de nosso cinema no evento era pequena e, às vezes, fizemos edições sem nenhum filme do Egito. Este ano, tivemos oito títulos, incluindo um em competição ("Abu Saddam", de Nadine Khan, que rendeu a Mohamed Mamdouh o prêmio de melhor ator). O festival é uma ferramenta importante para garantir exposição para os filmes independentes do Egito, conseguindo inclusive torná-los mais bem-sucedidos comercialmente. Isso é importante sobretudo quando se trata de um documentário, como "Lift Like a Girl", exibido ano passado. Estamos criando mais relação com os cineastas de nosso país.

O cartaz da maratona cinéfila do Egito Foto: Estadão

DE que forma o seu trabalho como roteirista - a propósito, "Mallaki Iskandariya", que escreveu, é uma aula de escrita em forma de filme - interfere em suas escolhas como produtor e, até mesmo, em suas decisões como produtor? Mohammed Hefzy: Acredito que um bom produtor é aquele que tem um cabedal de saberes que o habilite a analisar um roteiro e torná-lo melhor. Venho usando minha experiência como escritor para distinguir roteiros de qualidade e scripts medíocres. Embora eu não tenha mais planos de escrever, gosto de estar ligado ao processo criativoO que podemos esperar de "Back to Alexandria" e "Perfect Strangers"? Mohammed Hefzy: "Back To Alexandria" é um filme suíço dirigido por Tamer Ruggli. Ainda é cedo para saber qual será o nosso envolvimento com o filme. Eu gostei do roteiro e Tamer é um talentoso realizador. Mas é cedo para comentar. "Perfect Strangers" vai estrear em algum momento nas próximas semanas, mas eu ainda não sei se vai ser um lançamento em circuito ou não. É um filme (baseado no italiano "Perfetti Sconosciuti", de Paolo Genovese) que junta muitos de nossos talentos e pode viajar para além das fronteiras de nosso país.

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p.s.: O box infantojuvenil "Manifestações Culturais do Brasil" (Quereres Edições), que será lançado sexta-feira na Bienal do Livro, apresenta 50 patrimônios imateriais do país registrados pelo Iphan em uma história itinerante. A obra reúne dois livros escritos pelo autor premiado Tino Freitas: "Um passeio pelo Patrimônio Imaterial Brasileiro" e "Uma viagem cultural pelo Brasil Criativo", que acompanham a viagem de uma família pelo Brasil, quando vão conhecendo a diversidade da cultura popular do país. "Em toda ficção, é preciso colocar um pouco de verdade, senão ela não funciona. Então, para contar essa história, quis criar uma família com pai e mãe de culturas distintas, que pudessem circular por todas as regiões do país com uma certa verossimilhança a outras famílias brasileiras", descreve o autor Tino Freitas. "O grande desafio foi colocar 50 patrimônios em uma só narrativa. E cuidar para que a trama não fosse apenas informativa, mas também ágil e divertida. A minha proposta foi criar uma história em que eu pudesse apresentar esses patrimônios numa linguagem que aproximasse tudo isso do universo da criança", acrescenta. A equipe também criou uma Caderneta de Brincadeiras, com textos de Graça Ramos para que as crianças possam fixar o conteúdo presente na história. O projeto também contempla atividades educativas com professores das redes públicas de ensino.

p.s.2: Um dos bairros mais antigos do Brasil, fundado em 1597, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Pedra de Guaratiba é tema do documentário "Doidos de Pedra, o Paraíso Ameaçado". Dirigido por Luiz Eduardo Ozório, o longa-metragem revela como a devastação tem avançado em toda a região, que era um paraíso ecológico e teve sua orla completamente tomada pela poluição. Além de discutir problemas ecológicos, o filme apresenta curiosidades sobre a comunidade que habitou aquela região. No dia 10 de dezembro, às 19h, o filme será exibido na Arena Chacrinha, para que os moradores da região possam ter acesso à produção, que recebeu diversas láureas internacionais, como o prêmio de melhor documentário pelo júri popular no Festival Inffinito de Cinema, nos Estados Unidos. A entrada será um 1kg de alimento não perecível, a ser doado para a Fundação Angelica Goulart, situada em Pedra de Guaratiba. A produção é da OZ Films, FM Produções e Copacabana.

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