Na entrevista a seguir, Jorge expressa ao P de Pop como é unir excelência e sabedoria a cada loop, com a maestria de alguém que torna o Cinema, a TV e, agora, o streaming lugares de beleza. Obrigado, Mario Jorge, por você existir.
O que mais chama atenção no modo de falar de Eddie Murphy e que desafio a interpretação dele impõe? Mário Jorge Andrade: O Eddie Murphy consegue passar uma malandragem que é bem carioca. Talvez por isso eu tenha ido tão bem em dublá-lo. Pelo fato de ser carioca, não ser malandro, mas de ter sido criado em Madureira. Eu peguei muito dessa malandragem dele, que é uma malandragem à carioca, e, talvez por isso, o público goste tanto da minha voz nele. Eu acho que é o melhor "personagem"... melhor "boneco"... que faço. Gosto muito de dublar o John Travolta, mas com o Eddie é mais Mário Jorge.O que Dolemite traz como diferencial entre os "heróis" que Murphy encarna? E qual foi o primeiro dos personagens dele que você dublou? Mário Jorge Andrade: A dificuldade de dublar o Eddie é que ele é muito intenso e fala muito rápido. Essa rapidez com que ele fala os diálogos é o que torna o sincronismo e a interpretação muito difíceis. Com certeza ele é o personagem/ator mais difícil que eu dublo. Porém, cada filme do Eddie é uma jogada diferente. Se você olhar "O Professor Aloprado" e olhar "Meu Nome é Dolemite!", ou então "Um Tira da Pesada", todos os filmes têm as características do Eddie, mas ele vai vivendo coisas muito diferentes. Os personagens são heróis ou anti-heróis, mas todos, de uma maneira muito própria, são um pouco do Eddie. O "Meu Nome é Dolemite!" é mais um assim.
E a sua prática, de quatro décadas de dedicação à atuação, facilitou a dublagem dele? Mário Jorge de Andrade: Eu achei que, conforme eu fosse ficando mais velho, e ele também, dublar o Eddie Murphy iria se tornar mais fácil, mas eu estou percebendo que é o contrário. Dublar "Meu Nome é Dolemite!" foi barra pesada. Eu tinha acabado de fazer uma cirurgia e dublei com três ou quatro dias de operado. Percebi que ele está cada vez mais difícil. Nesse filme, ele consegue levar ao personagem um misto de cafonice e inocência, o que não deixa de ser uma forte crítica. Eu adoro dublar os filmes do Eddie e esse foi um desafio bem grande. Nunca falei tanto palavrão na minha vida. Foi um desafio muito grande em todos os sentidos para mim. O primeiro filme que eu fiz dele foi o primeiro "Um Tira da Pesada". Os filmes do Eddie sempre trazem muita visibilidade. Os fãs sempre falam sobre o Burro Falante dos filmes do "Shrek", falam sobre os filmes dele em geral. O Eddie Murphy traz muita visibilidade. Isso é muito bom para mim e para todos. Gosto muito de dublá-lo e ele me traz muita visibilidade. Esse novo filme com certeza vai trazer ainda mais, acho que ele pode concorrer ao Oscar.
O que esse espaço do streaming, vide a Netflix, trouxe como abertura de mercado pra dublagem? O que um filme como "Meu nome é Dolemite" dá de visibilidade para você? Mário Jorge Andrade: Essa abertura da Netflix realmente trouxe muito trabalho para os dubladores. Os filmes dublados passaram a ser mais respeitados. Uma coisa interessante da Netflix é que eles ouvem o público. Eu acabei dirigir a dublarem da série "The Crown", na qual o público exigiu a redublagem porque ela tinha sido muito mal dublada. Por essa exigência, a empresa fez toda a redublagem da série. Eu acho que isso aumentou consideravelmente a qualidade da dublagem, já que o público ficou mais exigente.Que novos trabalhos você tem pela frente na dublagem este ano e em 2020? Mário Jorge Andrade: Eu acabei de dirigir a dublagem de "The Crown", fiz todas as escalações e dirigi todas as temporadas, a terceira foi dirigida por mim e pelo Felipe e pela Hana. Acabei de fazer "The Handmaid's Tale", uma séria maravilhosa e muito difícil. Fiz "O Mundo Sombrio de Sabrina", estou fazendo a segunda temporada e a série está fazendo muito sucesso.Como foi a sua trajetória na dublagem? Mário Jorge Andrade: Eu dublo desde agosto de 1977. Já tenho 42 anos de dublagem. Nasci no Rio de Janeiro, em Madureira, talvez por isso a minha jogada de cintura para fazer "Meu Nome é Dolemite!". Aliás, eu, Hélio Ribeiro e Mauro Ramos nascemos em Madureira. Comecei fazendo cinema. Fui parar na dublagem muito depois, por uma indicação feita pelo Carlos Imperial para o Hebert Richers. Nunca tinha feito dublagem profissional, mas, fiz um teste, passei e estou fazendo isso até hoje. Meu tio era italiano e um tremendo diretor de cinema chamado Alberto Pieralisi (realizador da obra-prima "O 5º Poder") e eu comecei fazendo cinema com ele. Fui assistente de direção dele, fazia continuidade e assistência de direção. Depois, fui assistente de direção do J. B. Tanko, fui assistente de direção do Carlos Manga e de vários outros diretores. Aí fui para a televisão e fiz um programa com o Boninho chamado "Clip Clip" e, logo depois, fiz "TV Colosso". Estou com 67 anos, mas com carinha e corpinho de 80.