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Marcos Prado inflama Berlim com doc sobre brasileiro morto na Indonésia

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Curumim, de Marcos Prado, registra os últimos momentos de vida do brasileiro Marco Archer, fuzilado na Indonésia em 2015 por tráfico de drogas Foto: Estadão

 

Primeiro dos quatro longas brasileiros selecionados pelo 66 Festival de Berlim, Curumim, de Marcos Prado, foi pojetado na tarde desta sexta em um cinema abarrotado, que engolia seco a cada passo de sua narrativa sobre os derradeiros momentos na vida de Marcos Archer, brasileiro morto na Indonésia em janeiro de 2015. Aplaudido por uma multidao que cercou o cineasta no fim para matar suas curiosidades, o projeto nasceu em 2007, quando o cineasta e produtor de Tropa de Elite foi procurado por Archer. Este passou mais de uma decada encarcerado por traficar drogas.

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"Meu maior desafio neste projeto era como conseguir humanizar a figuar do Marco, que nao fazia reflexoes filosoficas e nao se abria", diz Prado. "Nao eramos amigos proximos, mas a gente se conhecia de antes de ele ser preso, de praia e de festas, nessa aproximaçao dele com o surfe, com asa delta, esporte. Foi um amigo comum que aproximou a gente. E eu me senti muito mal com a morte dele. Sei que ele deveria pagar pelo crime que cometeu. Mas é uma injustiça que esse pagamento seja feito com sua vida. A pena de morte é uma barbarie".

Respeitado como sendo um cineasta de rigor formal na pesquisa das potencias da imagem desde Estamira (2004), Prado caminha em Curumim por um outro terreno documental. Nao é cinema do esplendor da forma; eh sim um experimento de investigaçao e denuncia, com um dispositivo que evoca o classico Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, em seu processo de filmar sobre o arame farpado do tragico. Sabe-se o destino do personagem, mas, mesmo assim, o cineasta cria suspense acerca do que foi feito dele, sobretudo nas cenas nas quais relembra sua tentativa de fuga, antes de ser preso. O filme tem vértebras de thriller, mas sua adrenalina nao dilui seu potencial de filosofia ao pensar na amargura da espera pela Morte e no abandono dos condenados.

Ainda nesta sexta, Berlim recebe Anna Muylaert e seu mais recente trabalho, Mãe Só Há Uma, no mesmo Panorama que acolheu Prado e que, neste sabado, recebe Antes o Tempo Não Acabava, de Sérgio Andrade e Fábio Baldo, com foco na ciranda de descobertas afetivas de um jovem indígena em Manaus. Segunda é a vez de o Forum exibir Muito Romântico, um projeto gestado ao longo de uma década por Melissa Dullius e Gustavo Jahn.

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