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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Marcelo França Mendes tá em cartaz nas livrarias

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

Rodrigo Fonseca Candidatando-se desde já ao posto de leitura obrigatória de TODA boa biblioteca cinéfila deste país não apenas por seu memorialismo riquíssimo, mas também pelo melado de cana de sua prosa, "Eu Que Amava Tanto o Cinema", lançado pela editora Cobogó, abre o baú de saudades e sucessos de Marcelo França Mendes, que passou três décadas ligado ao Grupo Estação, na lida diária de programar e exibir filmes de autor para gerações e gerações de cinéfilos cariocas. Atualmente, estão rolando sessões de "Batman" e "Spencer" no Estação Botafogo e tem uma penca de oscarizáveis, como "Licorice Pizza", "Drive My Car" e "Belfast", no Estação NET Rio. Ou seja, a grife que Mendes ajudou a erguer segue em frente. Mas há muito o que se falar sobre a história da fundação dessa grife. E o livro dele é essencial para isso. Vai ter noite de autógrafos nesta terça-feira, às 22h, na Livraria da Travessa, de Botafogo, a partir das 19h. Em 336 páginas bem craseadas, delicadamente arejadas de zeugmas, silepses, ditongos e orações subordinadas subjetivas, MFM narra o surgimento do Cineclube Estação Botafogo e sua expansão a partir das memórias de um de seus sócios-fundadores. Suas 336 páginas são uma máquina do tempo, que nos levam à efervescência da década de 1980. Eram os tempos da euforia das Diretas Já, do primeiro Rock in Rio, da abertura do Circo Voador e de tantos outros acontecimentos que transformaram a cultura na cidade. O que temos é um tratado geopolítico sobre um Rio de outrora, que ainda resiste.

 Foto: Estadão

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Que filme fez com que você optasse por viver cinema e viver com o cinema? Esse filme passou pelo Estação, nas suas mãos? MARCELO FRANÇA MENDES: Como conto no livro, foi uma sucessão de filmes em um curto espaço de tempo, iniciada com "O Sétimo Selo", seguido de "Noites de Cabíria", "Meu Tio", "Roma, Cidade Aberta", entre outros, e, logo em seguida, poucos dias depois, uma retrospectiva Glauber Rocha. No meio disse, li o livro "Limite", de Saulo Pereira, e posso considerar que vi o filme, porque no livro há o filme fotograma por fotograma. Tudo isso aconteceu no espaço de menos de um mês, o que me fez desistir de fazer vestibular para Geologia e optar pelo de Cinema. Brinco que desisti das pedras para ficar com o "Rocha". Programei todos esses filmes (aliás, as mesmas cópias) poucos anos depois quando fiz a programação do Cineclube Macunaíma e, depois, do Estação.Qual foi a história mais doída de rever para o livro e qual foi a história mais doce de revisitar? MARCELO FRANÇA MENDES: Na verdade, foi constatar que, apesar de muitas coisas boas, hoje eu preferiria que tivesse existido outro Marcelo e que eu tivesse seguido a carreira de "público". Tive que ver toneladas de filmes ruins por obrigação, como exibidor, distribuidor e selecionador de festivais. Isso me roubou muito tempo, tempo dos livros, da família e de filmes que eu realmente queria ver. Quando ia aos festivais, não via aquilo que queria ver, era obrigado a arriscar. Às vezes, encontrava surpresas boas, mas, na maioria das vezes, eram filmes descartáveis. Espero que a repercussão do livro ajude a tirar esse sentimento ruim de tempo perdido que sinto hoje. Sem contar que tive que aprender coisas pelas quais não tinha o menor interesse para poder administrar uma empresa que crescia rapidamente. Teria preferido ter lido qualquer livro que a CLT, que aprender o código de segurança do Corpo de Bombeiros, saber o que é Ebitda (um dos indicadores financeiros usados para medir os resultados de uma empresa, que contempla a quantidade de recursos que a empresa gera apenas em suas atividades principais, sem contar a rentabilidade de investimentos ou descontos de impostos), entender de margem de lucro, recuperação judicial etc.De alguma forma, após esse processo de narrar pela palavra, você considera a hipótese de filmar? De fazer filmes? De ver um filme SEU no Estação? MARCELO FRANÇA MENDES: Não penso em dirigir filmes. Gosto de fazer muitas coisas ao mesmo tempo e não me vejo dedicado a um único projeto por muito tempo. Parece estranho para quem esteve ligado a um projeto, o Estação, a vida toda, mas sempre tivemos uma multiplicidade muito grande de atividades. Quando deixei a direção da empresa, em 2017, após 32 anos, queria produzir filmes. Mas os tempos se tornaram especialmente hostis para isso. Então migrei para a escrita. Hoje desenvolvo projetos de séries e filmes, além de estar escrevendo dois livros de ficção ao mesmo tempo. Vou lançar um projeto de captação para um filme de longa-metragem nas próximas semanas, mas ainda não posso falar sobre isso. É uma surpresa! Mas hoje me vejo muita mais como roteirista ou escritor que cineasta.

p.s.: Sábado tem "Footloose", com Kevin Bacon (bem) dublado por Nizo Neto, na TV Globo, às 15h.

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