Maitena na TV

Rodrigo Fonseca Vai ter adaptação de HQs no "Supercine" deste sábado. À 0h15, a TV Globo exibe o divertido "Mulheres Alteradas", uma adaptação da obra em quadrinhos de Maitena Burundarena roteirizada por Lilian Amarante e Caco Galhardo, sob a direção de Luis Pinheiro (da série "Lili a Ex"). Há um trabalho impecável de Alessandra Negrini em cena. Fã do chicote no trato com empregados e com seus crushs casuais de alcova, Marinati, advogada esculpida a gás hélio por Alessandra, é um ímã de risadas e um transistor de debates acerca do empoderamento. Sua visão de mundo é, a um só tempo, refratária à fragilidade e apegada a valores afetivos, numa complexidade que dá a ela uma tridimensionalidade singular. Seu chefe (Mario Gomes, ótimo) e sua amiga de juventude (Monica Iozzi, etérea em uma atuação no vértice do drama) quebram os cubos de gelo em suas veias nesta narrativa de crônica de costumes decalcada dos quadrinhos de Maitena. Há um elenco possante. E há, na direção de Pinheiro, a opção por planos incomuns ao filão, guiados pelo requinte, como o longo plano-sequência de Iozzi e Maria Casadevall (em inflamada e luminosa atuação) a papearem num carro, sobre escolhas e seus custos. Deborah Secco, numa personagem de mondiglianesca inquietude, dá ternura à trama, como a assistente de Marinati, jogada para esncanteio, em seu casamento, em seus anseios de afeto. Mas o mais potente elemento desse jogo de armar é LaNegrini. Ela dá a Marineti um toque de Goldie Hawn, com um humor plástico, de expressões faciais cartunescas. Ela ajuda "Mulheres Alteradas" a gravitar no registro do riso mesmo em seus momentos de dor. Há um rico enfoque das angústias de suas protagonistas. É sempre uma surpresa ver o quão bem Alessandra se adequa às mais variadas exigências do cinema, brilhando no universo semiológico de Julio Bressane (em "Beduíno", ela dá um show) ou numa versão de gibis pras telas, passando pelo "Abismo Prateado" de Karim Aïnouz. Grande atriz.