Rodrigo Fonseca
27 de maio de 2017 | 15h53
Uma Thurman e seus colegas de júri confiam o prêmio principal da mostra Un Certain Regard a “Lerd – Um Homem Íntegro”, ensaio sobre a corrupção no Irã
RODRIGO FONSECA
Tomara que Pedro Almodóvar siga os passos de Uma Thurman ao escolher os vencedores da competição oficial pela Palma de Ouro de 2017. Estrela de Kill Bill, a atriz americana de 47 anos fez um trabalho impecável no comando dos jurados da seção Un Certain Regard. Embora tenha esnobado La Cordillera, da Argentina, seu time premiou o filé mignon dos concorrentes de sua disputa, valorizando um drama de tintas políticas do Irã: Lerd – Um Homem Íntegro, de Mohammad Rasoulof.
Merece destaque na seleção da Fipresci (que contou com o P de Pop entre seus jurados) a consagração do português A Fábrica de Nada, uma produção de quase três horas de duração, misturando musical, realismo social, perplexidade e humor, que veio marcar a presença de nossa antiga metrópole na Croisette. Há quem diga que a produção, com direção de Pedro Pinho (de Um Fim do Mundo) foi a experiência de linguagem mais ousada de todo o evento. Este looooonga-metragem foi escalado para a Quinzena dos Realizadores, canteiro de descobertas de onde saíram joias como Alive in France, de Abel Ferrara, L’Amant d’um Jour, de Philippe Garrel, e A Ciambra, de Jonas Carpignano. Nossos patrícios sempre tiveram boa sorte nessa seção paralela à briga pela Palma de Ouro. Foi lá que nasceu o épico cítrico e crítico As 1001 Noites, de Miguel Gomes, em 2015. O exercício narrativo de Pinho tem uma linha tão livre e anárquica quanto a de Miguel. Ou, no mínimo, provocar tanto quanto ele provocou aqui.
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