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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Last Dance', o eleito do público de Locarno

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

RODRIGO FONSECA Em êxtase desde sábado pela comemoração das vitórias de Julia Murat e seu "Regra 34" (com o Leopardo de Ouro); de Carlos Segundo e seu "Big Bang" (melhor Corto d'Autore) e da cearense Wara e seu "Soberane" (melhor curta), o Brasil já pode agora olhar pra as premiações do 75º Festival de Locarno buscando outros bons filmes, de diferentes nacionalidades, que nos ofereçam visões nada moralizantes da vida contemporânea, como é o caso da joia suíça "Last Dance". Entre todos os longas que desfilaram pela Piazza Grande, incluindo superproduções, a intimista e adocicada reflexão da cineasta Delphine Lehericey sobre resiliência, em relação aos fantasmas do etarismo, conquistou a láurea de júri popular no evento. Seu protagonista ajuda muito nesse encantamento das plateias. Aos 70 anos, François Berléand presenteou Locarno com sua mais tocante interpretação, à frente de um filme capaz de retratar as nuanças da dança contemporânea de um modo raras vezes visto no cinema. Berléand é um aposentado septuagenário que aprende a dançar para honrar a memória de sua finada mulher. "Eu sou cinco anos mais jovem que o personagem, mas queria partir da situação dele para olhar a questão da aposentadoria e discutir o quanto é perigoso nos entregarmos à inércia", disse Berléand ao Estadão. "Sou um ator que vem e que sempre está no teatro. E, no palco, sempre atento à força do texto alheio, a gente aprende a lidar criativamente com o silêncio. Encontrei um espaço criativo para esgrimar com as palavras e a ausência delas num dispositivo narrativo de dança".

François Berléand em cena com uma das bailarinas que ensinam a seu personagem, um aposentado viúvo, o valor da resiliência Foto: Estadão

Laureado com quatro prêmios (melhor direção, atriz, ator e menção honrosa entre os filmes de estreante), "Tengo Sueños Eléctricos", de Valentina Maurel, da Costa Rica, é uma das mais corajosas celebrações da paternidade no cinem. Sua trama se concentra na reestruturação afetiva de uma família, após uma separação, com foco no processo de amadurecimento de uma adolescente criada num ambiente artístico. Eva (Daniela Marín Navarro) e seu gato são amigos inseparáveis que passam por problemas depois que a mãe decide expulsar o felino de seu lar. A saída par a menina é viver com o pai: um tradutor e aspirante a poeta (Reinaldo Amien Gutiérrez) que não parece muito disposto a crescer, mas ama a filha sobre todas as coisas. A fotografia de Nicolás Wong Diaz é um assombro, no diálogo com o realismo. Vale lembrar que o filme brasileiro de tons experimentais "É Noite Na América", de Ana Vaz, saiu de Locarno com uma distinção nua premiação ecológica do festival. A curadoria de Locarno é feita por Giona A. Nazzaro, que vem revolucionando o evento com suas escolhas ousadas.

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