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'Jogador nº1': mais glacê do que recheio

Ben Mendelsohn é a joia de "Jogador Nº1", um Atari que dá tilte

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

Rodrigo Fonseca Apesar da trilha sonora contagiante e do visual capaz de desbundar o mais cético analista da realidade virtual, Jogador nº 1 (Ready Player One) é um Spielberg de fôlego menor e não por opção de modéstia: é nítida a ambição do Midas de Hollywood em quebrar paradigmas de imagem, mas a dramaturgia não sustenta a decoração festiva. Quem saiu do tenso The Post com a certeza de ter visto o cineasta em sua melhor forma e em seu melhor filme desde O Resgate do Soldado Ryan (1998) vai penar aqui, diante de uma trama capenga e óbvia, que não mergulha fundo na reflexão platônica esboçada pelo diretor. Temos um futuro pertinho de nós onde a Humanidade enfiou a cara em um videogame coletivo no qual todos buscam uma promessa de felicidade. Quando o criador do game (o superestimado Mark Rylance) tenta passar seu império adiante, àquele que debelar seus desafios e encontrar três chaves mágicas (enredo que evoca atos de Willy Wonka em A Fantástica Fábrica de Chocolate), a empresa responsável pela gestão do "console" busca meios de trapacear, destruindo os potenciais vencedores. Cabe a um órfão pobre (Ty Sheridan, sempre infalível) passar por todas as fases, tendo a ajuda de amigos e de um possível amor: Art3mis (Olivia Cooke). Há um "mais do mesmo" inevitável na premissa decalcada do romance de Ernest Cline. E esta até poderia ser deglutida com mais sabor caso a montagem não deixasse uma barriga crescer perto dos 55, 60 minutos iniciais, tornando rocambolescas situações aparentemente simples e diluindo o tônus reflexivo. Estamos diante de um ensaio sobre os perigos da alienação pela virtualidade, disfarçado sob vestes de discussão sobre o amadurecimento - assunto essencial a Spielberg. Claro que o realizador, um dos maiores mestres do audiovisual moderno, levanta a bola alto (beeeem alto) em múltiplas situações, sobretudo em sua investigação sobre a interação multirracial e sobre a fraternidade. Mas não temos neste filme o arrebatamento prometido pelo trailer. É visível a falta de intimidade de SS com o tema e com o ambiente dos games. Seu trunfo é seu vilão, o empresário Nolan Sorrento, um escroque irônico que engole toda a tela graças ao talento GG de Ben Mendelsohn. Aliás, como se viu em Rogue One (2016), não há filme que este australiano não roube para si. O mesmo não pode se dizer de Rylance, que apela para múltiplos cacoetes mas não alcança a dimensão trágica que se aguarda dele nunca.

p.s.: No Brasil, Ben Mendelsohn costuma ganhar a voz de Luiz Carlos Persy, um dos maiores dubladores do país das últimas duas décadas.

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