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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Jazz de Chet Baker embala San Sebastián em bela atuação de Ethan Hawke

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Ethan Hawke encarna o jazzista em "Born to Be Blue", de Robert Budreau  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA

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Ethan Hawke não se cansa de surpreender San Sebastián, que, em sua 64ª edição, deu ao ator de 45 anos o Troféu Donostia pelo conjunto de sua carreira. Logo no início do evento, sexta, ele incendiou telonas como um dos caubóis de Sete Homens e um Destino, contagiante remake do faroeste homônimo de 1960, estrelado, nesta versão anos 2010, por Denzel Washington, Chris Pratt e mais uma horda de estrelas boas de tiro. Mas neste domingo, Hawke superou a si mesmo na pele do jazzista Chet Baker (1929-1988) em Born to Be Blue, uma história de amor daquelas de arrancar suspiros, mesmo em seus pontos tristes - e como é triiiiiiiste. Com DNA canadense, este longa-metragem musical foi dirigido por Robert Budreau, da Escola de Cinema de Vancouver.

Choro com "My Funny Valentine"  Foto: Estadão

Chesney Henry "Chet" Baker, Jr. levou uma vida cindida entre o amor pelas mulheres e a fidelidade à heroína. Hawke recria os passos do trompetista e cantor em anos sóbrios (ou quase) numa tentativa de voltar aos palcos e gravar de novo, com a ajuda de sua bela mulher, a atriz Jane (Carmen Ejogo, ótima). Nas quebradas do mundaréu da droga, Chet arruma força para aprender a tocar banguela, após a perda dos dentes em um ataque de credores do tráfico. A dor dele está nos gestos mínimos de Hawke e na escolha (discreta) do cineasta em enquadramentos que compartilham da angústia do personagem, sem invadir sua intimidade. E a sequência embalada ao rasga-coração My Funny Valentine é de cortar o peito... exigindo da gente mãos dadas.

"Nocturama": jogral do medo  Foto: Estadão

Sobre a competição...

Bom, o que temos de melhor, até agora, vem da França. San Sebastián amanheceu embasbacada com a virulência dos planos de Nocturama, de Bertrand Bonello, que veio com fôlego para promover o diretor de O Pornógrafo (2001) ao panteão dos gigantes. Numa narrativa lacunar que não explica nada, um grupo de jovens de diferentes classes sociais e múltiplas etnias percorre linhas de metrô e instituições parisienses sem que saibamos a razão. Todos estão tensos. Só isso é claro. Aí, um deles chega armado a um quarto de hotel e atira num hóspede assim que este lhe abre a porta. Se o morto sabia as razões de seu assassínio, não temos ideia. Sabe-se só que esses garotos e garotas de Bonello sairão por aí espalhando explosivos plásticos, e, com isso, criam uma espécie de "jogral do terror". Mais polêmico do que isso, no atual contexto europeu, o provocativo cineasta não poderia ser. Ou não...

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Outra trama francesa em concurso a cair no gosto dos espanhóis foi (o soberbo) Orpheline, de Arnaud Des Pallières, no qual o diretor do épico Michael Kohlhass (2013) faz um panorama da opressão contra a mulher a partir de um mosaico de histórias de jovens marcadas por um desejo desvairado ou por uma ambição equivocada. Tem desde uma diretora de escola acusada de crimes até uma jovem que pode vender o corpo (ou um bebê) a um agiota. Adèle Exarchopoulos, de O Azul é a Cor Mais Quente (2013), é o destaque do elenco.   

"Pastoral Americana": McGregor dirige  Foto: Estadão

Dos 16 concorrentes escalados para desfilar pelas telas locais até o fecho do evento, o longa mais cercado de expectativas por parte da indústria mundial é o drama Pastoral Americana, que marca a estreia de Ewan McGregor, o jedi Obi-Wan Kenobi dos Episódios I, II e III de Star Wars, como realizador.

Nesta segunda, San Sebastián exibe, na seleção competitiva Horizontes Latinos, o longa brasileiro Era o Hotel Cambridge, da diretora paulista Eliane Caffé. A trama aborda o tema dos refugiados. Eles dividem que divide com um grupo de sem-teto uma ocupação no centro de São Paulo. No elenco estão Suely Franco e José Dumont. No dia 20 é a vez da produção luso-mineira A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha, sobre o reencontro de duas amigas em Belo Horizonte. Virá da França, no próximo dia 24, o longa de encerramento do festival: L'Odyssée, um drama sobre o mais pop dos oceanógrafos: o documentarista Jacques-Yves Cousteau, que ganhou a Palma de Ouro de Cannes e o Oscar com seus filmes sobre o mar.

 

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