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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Injustiçado na Europa, 'Julieta', o novo Almodóvar, traz o diretor em sua melhor forma: só o trailer já dá gosto de ver

Corre solto pelos cinemas nacionais o trailer de um dos filmes mais injustiçados pelo júri do 69º Festival de Cannes - e olha que, lá, as injustiças foram muitas, a começar pela ausência de prêmios para Sonia Braga em Aquarius -, que é, também, um dos mais subestimados do circuito europeu em 2016: Julieta, o novo "almodrama". Quem cunhou o termo foi o baiano Caetano Veloso, ao se referir à estética do espanhol Pedro Almodóvar, de volta na melhor das formas em seu novíssimo filme. De cara, o longa-metragem estabelece a madrilenha Adriana Ugarte como beldade (e talento) nível Penélope Cruz. A estreia por aqui está prevista para 7 de julho e é preciso que sua chegada seja valorizada, pois não se trata de "mais um Almodóvar" e, sim, de um grande filme sobre o viver, nas desinências mais cotidianas do verbo.

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

A beldade Adriana Ugarte é a jovem Julieta  Foto: Estadão

É um exemplar a mais do que se chama de metamelodrama. O verbete é parte das pesquisas de dramaturgia feita pelo professor José Carvalho (mais prestigiado teórico sobre roteiro no Brasil, que leciona como escrever para cinema e TV no Rio e em São Paulo na Oficina Roteiraria [http://www.roteiraria.com.br/]). Com base nas reflexões antropológicas do americano David Bordwell e nos ensaios geopolíticos do português João Maria Mendes, Carvalho consolidou essa expressão a partir da ideia de que o realizador de Má Educação (2004) cria seu universo com base no tecido visual "vivo" estabelecido pelo melodrama clássico e suas releituras modernos, de Douglas Sirk a Rainer Werner Fassbinder. De fato, Julieta tira sua percepção da condição feminina de "lições" que o cinema do passado nos deu, potencializadas aqui por um diálogo com a literatura de Alice Munro.

Sem humor algum, sem bizarrices na linha do realismo fantástico ou do filão sci-fi vistas nos últimos trabalhos do diretor número 1 da Espanha, como Volver (2006) ou A Pele que Habito (2011), Julieta é apenas um painel dos acontecimentos da vida de uma professora universitária, ao longo de duas décadas e meia. Numa atuação esplendorosa, Adriana Ugarte vive a jovem Julieta e Emma Suárez (brilhante) assume a protagonista em sua idade adulta. No início, temos um clima de suspense, que logo se converte em um registro melodramático sobre a relação caudalosa de Julieta com Xoan, pescador vivido por Daniel Grao. Já no primeiro encontro de olhares, Xoan mexe com a libido da jovem.

 

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