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'Il Pataffio', um Brancaleone da era covid-19

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Locarno vai às gargalhadas com um hilária adaptação do romance homônimo de Luigi Malerba, que evoca o clássico de Monicelli Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Com o poder de autorregeneração em dia, depois de recentes sinais de excelência em Veneza ("A Mão de Deus"), Berlim ("Leonora, Adeus") e Cannes ("Nostalgia"), o cinema italiano bate ponto na competição pelo Leopardo de Ouro de Locarno muito bem representado por "Il Pataffio", de Francesco Lagi, que se impõe na competição como um ímã de sorrisos. A partir do romance homônimo de Luigi Malerba, o diretor de "Quase Natale" (2020) evoca Mario Monicelli e seu "O Incrível Exército Brancaleone" (1966) na forma de uma comédia sobre o passado medieval da Europa. Seus saltimbancos são a tropa do conde Berlocchio (Lino Musella, impecável em cena), que precisa ensinar seus vassalos a ter uma conduta mais afetuosa.Que noção de cinema de gênero passa pela reconstituição histórica que você faz? Francesco Lagi: O que se vê ali em "Il Pataffio" é um parentesco com um tipo de comédia produzida pela Itália dos anos 1960 e 70 que representava a condição humana a partir dos arquétipos da commedia dell'arte. Falo de Monicelli, mas também do Pasolini dos "contos", como "As 1.001 Noites". É uma reconstrução da Idade Média num desenho de pessoas que estão perdidas e reduzidas a instintos, como a fome, a libido. E Berlocchio brota como um vilão, como um símbolo da ambição, rompendo com o heroísmo clássico. Mas, a partir de seus feitos, eu encontro algum traço de humanismo.Em que ponto o livro de Malerba te arrebatou? Francesco Lagi: Além da força dos personagens, ele me seduzia pelo desafio de adaptar aquela linguagem arcaica para o cinema de hoje, descontruindo ideologias. O livro é de 1978, uma época em que seu olhar irônico tinha uma carga política específica. Não estamos mais nos anos 1970. E investi numa perspectiva divertida, usando o texto como uma parábola sobre a condição humana, uma alegoria da fraqueza.E nestes tempos de correção política, seu humor esbarrou em alguma trava? Francesco Lagi: Não me impus nenhuma autocensura. Mas é uma história que ousa, desafia.

O diretor Francesco Lagi no festival suíço  Foto: Estadão

Entre os filmes que não saem dos lábios de Locarno, um dos mais bem falados é "MEDUSA DELUXE", de Thomas Hardiman. Nele, vemos um concurso de beleza envolvendo extravagantes penteados e cortes de cabelos (supervisionados nos sets pelo bamba dos cabelereiros, Eugene Souleiman) é palco para um mistério ligado ao assassinato de um astro do visagismo. A morte dele deflagra disputas de ego, paixões e desabafos, registrados pela câmera nervosa do diretor de fotografia Robbie Ryan com planos-sequência que desafiam a lei da física. Vai ter maratona cinéfila em Locarno até 13 de agosto, quando serão anunciados os filmes premiados. Na quarta, acontece a projeção do longa brasileiro "Regra 34", de Julia Murat.

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