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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Hereditário' tem bons momentos, mas carece de um James Wan

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
"Hereditário" soma uma bilheteria de US$ 44 milhões pelo mundo afora  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Existe um termômetro infalível para checar a temperatura e a pressão de um filme de horror: o susto. Quanto mais (e melhor) uma trama sobrenatural ou slasher provocar sustos, mais eficiente será a satisfação do benefício básico do gênero: dar medo. E pouco filões têm uma cartilha tão urdida quanto o horror, o que torna ainda mais urgente a conjugação precisa de seus verbos de ação. Atendidas as necessidades essenciais de um filme dessa linhagem (a tensão, o assombro, a fatalidade e o enfrentamento de dimensões míticas, representadas por manifestações do Além), abre-se espaço para reflexões existenciais e críticas à razão prática. É difícil sair de Hereditário (Hereditary), o terror do momento, revelado em Sundance, sem ficar impressionado com as várias abas de debate psicanalítico que o filme do estreante Ari Aster abre ao falar de luto e de melancolia. Porém, é difícil também não lamentar o quanto a inexperiência dele se faz notar na inabilidade de amarrar todas as discussões psicanalíticas abertas e de dar conta da aeróbica que o verbo "amedrontar" exige de um diretor. Há proposições cinematográficas preciosas e referências cinéfilas quase arqueológicas (a citação a O Homem de Palha, de Robin Hardy, é a melhor) na saga da família interpretada por Toni Collette, Milly Shapiro, Gabriel Byrne e pelo luminoso Alex Wolff. Na trama, esse clã entra em parafuso após a morte de sua dominadora matriarca, cuja filha, a miniaturista Annie (La Collette), é sonâmbula e cheia de paranoias. Tudo piora quando a pequena Charlie (Milly), a caçula deles, tem um acesso de alergia em uma festa. Melhor fazer silêncio em relação ao que se passa com ela e os demais para deixar o público se deleitar com os raros solavancos que o filme dá, em meio a suas viradas de roteiro inteligentes, prejudicadas por uma montagem morna, por vezes, soporífera. Há falhas também na direção de atores, em cenas em que Toni parece a Heleninha Roitman de Vale Tudo. Não faz sentido a analogia forçada entre este pequeno filme e o pantagruélico O Exorcista (1973), ou mesmo a comparação entre ele e a joia recente A Bruxa (2015), de Robert Eggers. Na arena do horror dos anos 2010, ninguém fez melhor do que James Wan e a franquia Invocação do Mal (The Conjuring), uma aula de artesania no domínio de um set. Este sim é um mestre do medo, testado e aprovado no primeiro Jogos Mortais (2004). Ninguém eleva o nervosismo do público, diante de uma aparição sombria, como ele. Que seu Aquaman chegue já.

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