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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Gramado: Fotografia de temperos espanhóis vitamina 'Como Nossos Pais'

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

Rodrigo FonsecaSensação de Gramado, elogiado de boca em boca por seu naturalismo suave e pela habilidade de abordar problemas políticos e existenciais com clareza, Como Nossos Pais dá um passo a mais na linha evolutiva de Laís Bodanzky como narradora de histórias de afetos não apenas em termos de carpintaria ação, mas também na dramaturgia do plano. É o filme visualmente mais orgânico da cineasta no equilíbrio entre a temperatura da fotografia (de cor, de luz e de enquadramento) e o discurso fílmico. Por mais que ela tenha passado por mestres como Walter Carvalho (em Chega de Saudade), aqui há uma acomodação mais branda, de maior harmonia até na relação com a montagem. E esse tom de "encaixe" se dá pela forma como ela se ritualiza num jogo de testemunho (e de representação) do Real com o espanhol Pedro J. Márquez, seu fotógrafo aqui. É dele a cinemática da série policial cubana Quatro Estações em Havana (2016). E a parceria aqui aponta para um caminho de elegância no modo de enquadrar capaz de influenciar no tom contemplativo - às vezes voyeurístico - das sequências dedicadas ao processo de amadurecimento da aspirante a dramaturga Rosa, vivida com entrega visceral por Maria Ribeiro. O trabalho dela poderá ser conferido (e aplaudido) em circuito a partir do dia 31 de agosto.  

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Há um mar de desafios diante de Rosa na trama escrita por Laís em parceria com seu habitual parceiro de dramaturgia, Luis Bolognesi. Seu casamento com o indigenista Dado (Paulo Vilhena, em irretocável atuação) está em crise. Sua rotina profissional está abalada, uma vez que ela - em vez de fazer teatro como gostaria - é obrigada, para sobreviver, a escrever textos publicitários sobre louça de banheiro. Para piorar, sua mãe (Clarisse Abujamra, forte candidata ao Kikito de melhor coadjuvante), doente terminal de um câncer no pâncreas, resolve revelar que ela não é filha biológica do homem a quem chama de pai. O pai em questão é o artista plástico com ar de maluco beleza Homero, personagem de leveza contagiante confiado ao cantor e filósofo Jorge Mautner.

Maria Ribeiro tem a atuação mais surpreendente de sua carreira em "Como Nossos Pais" Foto: Estadão

De tudo (e foi pouco) o que Gramado viu em seu Palácio dos Festivais até agora, o filme de Laís é um estudo de gentes pelo prisma dos sentimentos, pela ótica da afirmação do feminino e pela mirada metafórica da política, numa alegoria acerca do conservadorismo de nosso país hoje. Maria e Clarisse têm desempenhos históricos no detalhamento das mulheres do Presente. Mas anote aí um filme que pode fazer muita diferença por aqui nos próximos dias: um curta de animação chamado O Violeiro Fantasma, de Wesley Rodrigues, capaz de apontar novos caminhos para o desenho em nosso cinema, por linhas formais, mas também pela forma de representar nossas tipificações regionais.

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