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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Gramado cura sua larica com o humor de Paulo Tiefenthaler

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Chef trapalhão no programa "Larica Total", Paulo Tiefenthaler se reinventa numa atuação hilária em "O Roubo da Taça": Kikito de melhor ator   Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA

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Comédias são animais peçonhentos para a lógica de nove entre dez festivais de cinema do mundo, que, viciados no realismo social, esnobam o poder reflexivo da ironia, sobretudo se esta ironia andar de braços dados com a saliência sexual e com a malandragem, como faz o afrodisíaco O Roubo da Taça. Ele é um dos concorrentes de Gramado em 2016. Sua inclusão em concurso já demonstra ousadia (e iluminismo) da curadoria do evento gaúcho, formada por Eva Piwaworski, Rubens Ewald Filho e Marcos Santuário. Depois da sessão de Elis, de Hugo Prata, um drama musical recebido (com merecimento) como uma manifestação messiânica pela plateia, qualquer longa-metragem que entrasse em campo tenderia à degola ou a um esfriamento. Mas o longa de Caíto Ortiz não é qualquer comédia. E seu protagonista, Paulo Tiefenthaler (o master chef do finado Larica Total) não é qualquer ator. Por isso, "deu bom". Deu tudo de bom. Deu riso, aos quilos, mesmo que o público de 800 espectadores tivesse diminuído um tico, pelo cansaço da hora.

Quem ficou riu (ou ouviu rir), sobretudo na sequência que, desde já, candidata-se a ser "a" sequência de Gramado em 2016: Tiefenthaler dançando só de cuecão, com a Jules Rimet na mão, bebendo Toddy de "guti-guti", golinho a golinho. Foi um momento catártico numa noite de catarses sonoras múltiplas com o desempenho fenomenal da Elis Andréia Horta. E, já que o papo é bom trabalho de atriz, Taís Araújo fez bonito no longa de Ortiz.

Previsto para estrear dia 8 de setembro, O Roubo da Taça se beneficia da potência cômica do roteirista Lusa Silvestre (Estômago) em seus diálogos sacanas até o osso. Poço de incorreção política, o filme é uma espécie de Nove Rainhas à brasileira, uma vez que se concentra em especialistas (ou quase) em passar a perna na fé alheia. Peralta (Tiefenthaler, numa atuação paulocesarpereica) é um corretor de seguros falido por dívidas de jogo. Flamenguista roxo e fã da CBF, apesar da derrota na Copa de 1982, ele precisa de dinheiro para pagar seus credores. E sua mulher, Dolores (Taís), também está em seu cangote. A saída vem da ideia de roubar a Jules Rimet e vendê-la por aí. Um parceiro atrapalhado e violento, Borracha (o sempre avassalador Danilo Grangheia, da peça Krum), vai ajudar no golpe, que dá certo... até a página dois.

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A química entre Tiefenthaler e Taís Araújo é das mais afrodisíacas, na fotografia de Ralph Strelow Foto: Estadão

Apoiado em um elenco de coadjuvantes iluminado (sobretudo Mr. Catra e Stepan Nercessian), O Roubo da Taça revive uma ambientação muito similar àquele Rio retratado em Cidade de Deus (2002), mas o faz com um outro ethos, o da perdição, e com uma inquietação visual alta, mas distinta daquela que César Charlone nos deu em sua parceria com Fernando Meirelles. Aqui, o fotógrafo Ralph Strelow (de O Redentor) investe em tintas carregadas como a dos ecktachromes perdidos nas nossas gavetas do passado. E, a partir desse colorido retinto, Caíto cria um filme antenado como certa estética suja dos anos 1970, como numa chanchada padrão Carlo Mossy, só que com outro Viagra: o da inquietação moral. Sua inquietação é entender (ou tentar, pelo menos) a perenidade do gene malandro que contamina nosso DNA.

Sábado foi noite de um curta-metragem nota dez de CEP mineiro: Aqueles Cinco Segundos, de Falipe Saleme. Nele, um casal de amantes (vividos por Gabriel Godoy e uma faiscante Luciana Paes) revê como foi seu primeiro beijo numa sucessão de memórias frustradas. A montagem de Daniel Couto cria um ritmo de tensão crescente, inusitada para uma quase love story.

Neste domingo, a briga pelo Kikito de melhor filme segue com O Silêncio do Céu, de Marco Dutra, estrelado pelo argentino Leonardo Sbaraglia (de Relatos Selvagens). Os ganhadores serão conhecidos no dia 3 de setembro.

 

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