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Filme chinês vence San Sebastián numa premiação avessa à ousadia

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
"I Am Not Madame Bovary": vitória da China em San Sebastián  Foto: Estadão

Deu Ásia na cabeça na final do Festival de San Sebastián, pelas mãos de um júri sem audácia para apostar na inovação ou na transgressão, presidido pelo (há muito superado) Bille August (de Pelle, o Conquistador), cuja decisão foi anunciada no sábado, em uma cerimônia de gala: venceu I Am Not Madame Bovary (Wo Bu Shi Pan Jinlian, China), de Feng Xiaogang. Laureada já pela crítica no TIFF, o cada vez mais poderoso Toronto International Film Festival, do Canadá, a nova produçãodo realizador de O Funeral do Chefão (2001) sagrou-se ganhadora da Concha de Ouro espanhola por retratar (sob um viés crítico) costumes da sociedade chinesa. Na trama, a dona de uma cafeteria, recém-separada, encara o rígido sistema legal de seu país. O bom desempenho de A Fan Bingbing rendeu a ela o prêmio de melhor atriz. Mas a boa interpretação de Fan é o que há de mais contundente neste drama de tintas cômicas, que aposta em uma narrativa um tanto burocrática, com uma abordagem banal da vida em sua pátria. Curioso ou não, chama atenção o fato de August, o líder dos jurados, ter acabado de fazer um filme ambientado em solo asiático: The Chinese Widow, com Emile Hirsch, um romance na Segunda Guerra.

Cartaz do filme vencedor de Feng Xiaogang na China  Foto: Estadão

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Contou ainda em prol de Feng Xiaogang o fato de o longa dele ter sido boicotado pelo regime político chinês, tendo sua estreia adiada de setembro para novembro, sem explicação. Seu adiamento soou como um gesto de censura em represália à postura combativa do cineasta. "Tentaram me manter em uma gaiola", disse ele durante o festival n°1 da Espanha.

Como nem só da China vive a força da Ásia nas telas, sobrou o troféu de melhor diretor para o sul-coreano Hong Sang-soo (de Filha de Ninguém), talvez o mais superestimado cineasta de seu país, aclamado em San Sebastián pela (modorrenta) love story: Yourself and Yours. Trata-se de um ensaio quase semiológico sobre o ciúme na vida a dois, numa trama palavrosa.

"Eu, Daniel Blake": Palma em Cannes  Foto: Estadão

Desde o início de sua programação, San Sebastián apostava pesado em Pastoral Americana, primeiro trabalho do ator Ewan McGregor como cineasta, encarado por muitos como a maior descoberta do evento. Foi o longa com a melhor divulgação, com cartazes gigantes pela cidade toda. Mas o marketing em torno do astro de Por Uma Vida Menos Ordinária (1997) não comoveu os jurados, que tampouco foram tocados pela ousadia formal e temática de Nocturama, de Bertrand Bonello, e de Orpheline, de Arnaud Des Pallières, ambos da França. Do público, na votação de melhor filme pelo júri popular, a expectativa era de que uma trama emotiva fosse contemplada. E deu certo: o eleito dos espectadores foi o majestoso Eu, Daniel Blake, do inglês Ken Loach, agraciado com a Palma de Ouro de Cannes, e já confirmado pelo Festival do Rio 2016 (6 a 16 de outubro).

 

"Que Dios Nos Perdone": thriller policial  Foto: Estadão

Mas as responsabilidades do time de Bille Auguste não se bastaram na frente asiática. Dois dos longas-metragens mais contagiantes do festival, ambos thrillers e com a Espanha no DNA, saíram com prêmios. Baseado em fatos reais ligados à corrupção, El Hombre De Las Mil Caras, de Albert Rodríguez, ficou com o troféu de melhor ator, dado a seu protagonista, o ótimo Eduard Fernández (de A Pele Que Habito) Já o visceral policial Que Dios Nos Perdone, de Rodrigo Sorogoyen, que eletrizou a plateia com a investigação de um assassino de velhinhas, ficou coma láurea de melhor roteiro.

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Assinada por um diretor estreante, Emiliano Torres, e rodada na Patagônia, a produção argentina El Invierno ganhou o troféu de melhor fotografia e o prêmio especial do júri. Nesta última categoria deu empate com The Giant, da Dinamarca.

Longa de Eliane Caffé é um dos favoritos ao troféu Redentor deste ano  Foto: Estadão

Sobrou uma menção honrosa em San Sebastián para o longa paulistano Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé, lotado na seção Horizontes Latinos, cujo prêmio principal foi para o chileno Rara, de Pepa San Martín. Escalado já para o Festival do Rio (6 a 16 de outubro), o drama de Eliane sobre refugiados em São Paulo recebeu sua honraria no Spanish Coproduction Award. O Brasil levou ainda à cidade espanhola o belo A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha, atualmente em concurso no Festival de Brasília, que termina nesta terça.

 

 

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