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'Fala comigo' é o novo 'A Garota de Rosa-Schocking'

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
"Fala Comigo": o lado redentor do amor em filme consagrado no Festival do Rio 2016  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Enfim chega ao circuito brasileiro a produção vencedora do Festival do Rio de 2016: Fala Comigo, de Felipe Sholl, perfumado a essências românticas similares às de A Garota de Rosa-Schocking. Estreia no Brasil no dia 13 de julho. Falou-se, à época de sua primeira exibição popular, em concurso, que era um filme visceral. Um gaiato dissecou o organismo espasmódico do filme de estreia do premiado curta-metragista Felipe Sholl mais a fundo e empregou o adjetivo "pancreático", para dizer que é um longa de calar fundo em sua mirada analgésica sobre o objeto pontiagudo que causa tétano chamado amor. Na prática, o adjetivo foi empregado em papos regados a goles de cevada para Karine Teles, uma estrela em ascensão desde Que Horas Ela Volta? (2015). Lá ela era uma antagonista marxista. Aqui, na delicada direção de Sholl (primorosa no uso de elipses), na qual vive a recentemente abandonada e suicida quarentona Ângela, ela é antagonista de si mesmo, até redescobrir o querer nos abraços, nos beijos e no gozo incontinente de um adolescente de 17 anos. Karina é nossa Molly Ringwald e arranca suspiros por isso.

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Doida de meter medo, por exalar o aroma do abandono, Ângela é uma pianista que largou os estudos para casar, passou quase duas décadas com o mesmo amor e foi, sem saber bem a razão, largada sozinha numa casa com vista privilegiada, entre remédios de tarja preta e frangos assados com abacaxi. O nó que entra, salta e mata sua autoestima se amplia a cada trote que ela recebe de um garotão, Diogo (o achado Tom Karabachian), cujo fetiche é se masturbar ouvindo os murmúrios das analisandas de sua mãe, a psicanalista Clarice (a placa tectônica humana chamada Denise Fraga). Uma hora, numa sacada esperta de roteiro, adotada pelo diretor de (ganhador do prêmio Teddy em Berlim, em 2008), Ângela saca quem está acossando seu telefone e marca um encontro com ele. Pronto. Nasce uma paixão.

Karine Teles tem uma luminosa atuação  Foto: Estadão

Assim como no clássico Ploc de Howard Deutch, no qual Molly tentava temperar o coxinha Andrew McCarthy com temperos sub-urbanos, Fala Comigo arma sua cama sobre as pilastras do interdito: lá em A Garota de Rosa Schocking a interdição era por luta de classes; aqui, é por idade e por um padrão aparente de pedofilia. E como no filmaço de Deutch, Sholl opta pela simplicidade, numa relação de cumplicidade com a esperança, abrindo pequenos atos dramatúrgicos onde o enfretamento de pontos de vista faz a ação. O embate de Ângela com a mãe de Diogo é memorável. O mesmo vale para os papos de madrugada entre o jovem e seu pai (Emílio de Mello).

Frente às atuais patrulhas do politicamente correto, Fala Comigo bate como um aríete no peito das convenções morais (arriscando-se, sobretudo, por desafiar parâmetros da cultura LGBTS, em duas sequências que, se contadas, viram spoiler), sem jamais abrir mão de seu fator-encantamento. A montagem de Luisa Marques talvez seja, até agora, a mais engenhosa de toda a Première até aqui, soltando sempre que pode o bicho que vive na alma de Karine, agraciada com o troféu Redentor de melhor atriz de novo, seis anos de sua primeira vitória na categoria, por Riscado (2010).

 

 

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