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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Experimental, mas fofo, 'Muito Romântico' leva transgressão narrativa para o Fórum da Berlinale 66

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Casal brasileiro reflete sobre o Espaço como uma instância existencial em "Muito Romântico": aplausos em Berlim Foto: Estadão

Soa quase anacrônico o uso do adjetivo "fofo" para definir um longa-metragem de vertente experimental, mas, no caso de Muito Romântico, exibido pelo casal Melissa Dullius e Gustavo Jahn na seção Fórum Expanded do 66º Festival de Berlim não há termo mais preciso, pois há um pé no parangolé e outro na love story. Imagine um episódio de Mad About You dirigido por Helio Oiticica. É mais ou menos isso o que os dois produziram ao longo de uma pesquisa visual realizada ao longo de uma década de trabalho, a partir de uma viagem de navio para a capital alemã. Produzido pelo diretor Gustavo Beck, que também faz uma ponta como ator, o filme é uma espécie de ensaio em 16mm sobre o tempo, o exterior e o existencial, construído a partir da vida a dois de um rapaz e uma moça (vividos pelos realizadores) em uma jornada Atlântico adentro. Uma cama é um templo onde os dois costuram uma liturgia sobre o querer, o criar e o viver.

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"A princípio, o filme seria feito todo no navio, mas, depois, chegando em Berlim, sem saber quanto tempo ficaríamos aqui, expandimos o espaço e passamos a trazer outras associações visuais", diz Jahn, conhecido por seu trabalho como ator no cult O Som ao Redor (2012), que leva para muito romântico referências de clássicos brasileiros como O Rei do Baralho, de Julio Bressane. "Ao longo dos anos, viajar se tornou o dispositivo que coloca nosso processo criativo em ação".

Naomi Nero é a revelação de "Mãe Só Há Uma", o novo longa de Anna Muylaert Foto: Estadão

Acolhido com elogios calorosos pelo público do Cine Arsenal, parte do Filmhaus, o Museu do Cinema de Berlim, Muito Romântico tem a narrativa mais radical em termos formais de toda a armada brasileira aqui no festival, concentrada majoritariamente na mostra Panorama. De lá saiu o anárquico Mãe Só Há Uma, de Anna Muylaert, que deu às plateias germânicas um gostinho das discussões de identidade sexual da juventude verde e amarela, revelando o talento Naomi Nero, numa antropologia dos afetos promovida pela realizadora de Que Horas Ela Volta?. Já Antes o Tempo Não Acabava, que saiu lá de Manaus, trazido por Sérgio Andrade e Fábio Baldo, de igual afetividade etnográfica, virou um documento ficcional obrigatório para a compreensão da realidade do jovem índio no Brasil. E na seara documental, Curumim, de Marcos Prado, tirou aplausos e elogios até de Joel Coen com sua investigação sobre a barbárie a partir da morte do carioca Marco Archer na Indonésia em 2015.

 

E merece loas o curta capixaba Das Águas Que Passam, de Diego Zon, que pode nos render um Urso por seu olhar neorrealista sobre pescadores do Espírito Santo.

 

 

 

 

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