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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Edu Carvalho, artesão das manhas da entrevista

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Edu Carvalho, jornalista e escritor, 22 anos: memória viva das transformações da Rocinha - Foto de Gabriela Azevedo Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Pela lógica de que o Jornalismo pode ser uma arte, o carioca Edu Carvalho, de 22 anos, é um artista plástico das vivências cotidianas da Rocinha, uma espécie de Goeldi do dia a dia de um Rio de Janeiro açoitado pela pandemia. Em 2016, ele deu um banho de resiliência na Festa Literária de Patary (Flip) falando de seu corpo a corpo com o Real, como repórter. Agora, depois de passar por emissoras de TV como a Globo e a CNN, ele se prepara para lançar (pela Todavia, na Coleção 2020) seu primeiro livro como ficcionista, "Na Curva do S - Histórias da Pandemia na Rocinha". Quem já leu qualquer reportagem de Edu, sabe como ele desenha os assombros do mundo com uma luz goeldiana, sempre lúcida. De quebra, leva sua perseverança contagiante pra web, no programa de entrevistas #PodEntrar, onde conversa com cabeças sintonizadas com a urgência do verbo sobreviver. Esta segunda, às 18h, no @educarvalhol, ele ouve o dentista Fábio Bibancos, da ONG Turma do Bem. Na conversa a seguir, Carvalho fala ao P de Pop sobre sua fé nas Letras e na artesania do encontro, o que faz dele um exemplo a ser seguido (inclusive nas redes sociais), ouvido e lido.

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De que maneira o #PodEntrar se materializa como um espaço de investigação (e de arte) na sua interseção cada vez mais lúdica entre jornalismo e literatura? Edu Carvalho: Acredito que seja mais um espaço, onde a gente vai conseguir tratar e fazer conversas. Sou um jornalista atuante há um tempo, mas um jornalista em formação, sempre tratando com pessoas que estão na área da literatura e são ligadas à arte. Tenho duas meninas trabalhando e criando comigo, a Giovana Oliveira e a Carolina Chassot. O Lucas Romualdo faz a criação de vídeo. A gente sente que quem participa troca muito conosco e quem escuta/assiste, também. Pensei no projeto foi logo após o meu pedido de demissão da CNN. Não achei que as pessoas iriam topar. Já tivemos tantas conversas bacanas e felizmente vou continuar tendo agora.

Quais são as próximas entrevistas a caminho? Edu Carvalho: Nessa última semana de agosto, temos ainda: Fábio Bibancos, dentista; Maria Ribeiro, atriz; Michele dos Ramos, do Instituto Igarapé, que vai falar sobre segurança; temos Big Jão, um garoto jovem da Baixada, cineasta, roteirista e humorista, que é um fenômeno; Nina da Hora, que fala de linguagens da computação; Flávia Oliveira, Marcelo Tas, Ivanir Dos Santos, Lia Soares. A gente tem colocado boas pessoas nesse caldeirão.

O que esse espaço do podcast e das lives representa para a expressão das lutas sociais no Brasil? Edu Carvalho: A gente quer dar voz às periferias, às favelas e a lugares no norte e nordeste do país que não possuem espaço na mídia. A pandemia veio para acirrar e deixar as desigualdades evidentes, ampliando o fosso do acesso à informação e da informatização tecnológica. A gente vê, a cada encontro, que é importante trazer essas discussões sociaos à tona, é importante chamar essas pessoas que estão nesses lugares para mostrar, realmente, como é a realidade. Não é dar voz. A gente fala muito sobre isso nos últimos tempos, mas a questão não é dar voz: é dar visibilidade, jogar o canhão de luz nessas vozes já existentes que carregam urgências capazes de tocar a maioria das pessoas. É trazer essas pessoas para o centro da conversa, ouvi-las e começar a trabalhar para mudar questões do dia a dia que acometem grande parte da população brasileira. Muitas pessoas só se deram conta disso com a pandemia. Ainda, nada foi feito. Quero chama-las pra discussão, na esperança de que aconteça alguma movimentação em todos os níveis. Você vai falar das periferias, das favelas, dos sertões e do quanto ainda estamos precários. É tratar de uma maneira orgânica e que faça sentido para essas pessoas, que elas não se sintam chupadas só por uma demanda de assunto, porque está virando trending topic.

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Edu em foto de Cíntia Rizoli Foto: Estadão

Quais são seus caminhos literários ou jornalísticos hoje? Há um projeto de livro a caminho, para a Coleção 2020 da Ed. Todavia. Que livro será esse? Edu Carvalho: Ele se chama "Na Curva do S - Histórias da Pandemia na Rocinha". Sai daqui a duas semanas e estou super nervoso. A Todavia convidou 16 pessoas. Nove já foram lançados. Ontem, sexta-feira, 21 de agosto, foi lançado o nono dessa coletânea de autores lançando seus ensaios. Fui convidado por ser um jornalista que mora na maior favela do país. É uma forma de tratar da minha experiência, enquanto profissional e, também, da experiência de uma pessoa que mora na Rocinha em meio a pandemia. A Rocinha ficou no top five das cinco favelas com maior número de casos e maior número de mortes. Um mês e meio foi o tempo que tive de criar o livro. É um livro ficcional, pois não queria fazer algo jornalístico. Estava, até pouco tempo, trabalhando no vídeo e aquilo acabou sendo maçante demais para mim. Fui para o lado da ficção, por achar que era um lado bonito de se tratar e me aventurar. São contos. Eu diria que só um parte de um acontecimento real, mas o desenrolar da história não.

O quanto a Festa Literária das Periferias (Flup) talhou a sua esgrima com as palavras? Edu Carvalho: Acompanhei a criação e todo o desenrolar da Flup nos últimos anos, dela participando como mediador em três das edições. Ela me influenciou muito para que eu tomasse a decisão de escrever um livro. Hoje estou com 22 anos. Pensei estar muito jovem e me questionava se eu teria algo para dizer. Mas, olhando para todas as pessoas que vi passar pela Flup e continuam, vejo o quanto elas reivindicam o direito de poder contar suas histórias, de serem os protagonistas delas e de publicarem. É um feito muito importante até para incentivar outras pessoas.

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