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'Dias Intranquilos': gema do formato curta

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Latifa Saïd dirige Farida Ouchani em "Jours Intranquilles", curta-metragem sobre desterritorializações e recomeços Foto: Estadão

Pérola em curta-metragem sobre o banzo de quem deixou sua pátria para trás, levando memórias e incertezas consigo, Jours Intranquilles, de Latifa Said, foi um dos achados do recém-encerrado 69º Festival de Cannes para quem garimpava tesouros tamanho P na seção Short Film Córner, espécie de menu degustação de projetos do mundo todo, sem competições, mas de boa digestão. Entre as ofertas havia este poema franco-argelino sobre a dor do desterro e da falta de pertença. Francesa de pais argelinos, Latifa cria, nas telas, uma espécie de bilhete nostálgico, com base no vazio de uma senhora (que intuímos ter sido cantora, um dia) fora de seu país. Vivida com magnitude por Farida Ouchani, a protagonista arrasta sua mala de rodinhas por uma terra francófona na franjas do Mediterrâneo, buscando um lar que deveria acolher seu corpo fustigado de desesperança. Mas o anfitrião esperado não reside mais lá. Resta a ela um misto de bar e pensão, cafés, cigarros e um rádio, onde ouve canções de sua jeunesse há muito perdida. Mas, quando menos se espera, um legionário aposentado (Gerard Bartoletti) brota diante dela e um encontro de almas lacunares se ensaia. Sem data de exibição no Brasil à vista (que pena!), Jours Intranquilles é um experimento narrativo que esgarça as barreiras do drama clássico, buscando, ao longo de 29 minutos, uma perplexidade diante das fronteiras entre passado e presente, num espaço idílico massacrado por uma sutil intolerância com as diferenças.

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