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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Costa-Gavras na Amazon Prime e em Locarno

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Costa-Gavras completa 90 anos em fevereiro Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA Prestes a completar 90 anos, Costa-Gavras, realizador franco-grego respeitado como um papa do thriller político à força do sucesso mundial de "Z" (1969), vai ser homenageado no dia 11 de agosto na Suíça, durante o 75º Festival de Locarno, com um troféu honorário pelo conjunto de sua carreira como cineasta. Agendado de 3 a 13 de agosto, sob a curadoria do crítico Giona A. Nazzaro, o evento - que anuncia nesta quarta os concorrentes ao Leopardo de Ouro de 2022 - vai exibir dois dos filmes mais antigos de seu homenageado: "Tropa de Choque: Um Homem a Mais" (1967) e "Crime no Carro Dormitório" (1965). No Brasil, o longa-metragem mais recente do diretor, o imperdível "Jogo do Poder", está disponível na plataforma Amazon Prime. Ao ser homenageado pelo conjunto de sua obra no Festival de Veneza, há três anos, quando pôs esse trabalho, batizado originalmente de "Adults in The Room", na roda pela primeira vez, Konstantinos Gavras (seu nome de berço) incluiu o Brasil num debate acerca da economia da exclusão. Na ocasião, ele definiu nosso atual presidente com uma analogia irônica: "Para viver Bolsonaro, só Charles Chaplin, pois aquilo é uma comédia". "Um roteiro não filmado é como um amor que acabou mal. E eu tenho vário amores quer não terminaram bem, nessa lógica da escrita de filmes. Contei as histórias que queria, embora eu tenha vontade de contar outras", disse Costa-Gavras ao P de Pop. "Cinema não é como um jogo de futebol, em que as regras estão estabelecidas, cronometradas e arbitradas. Cinema é um espetáculo vivo, que se pensa". Egresso de uma vila do Peloponesso chamada Loutra-Iraias, Costa-Gavras, ganhador da Palma de Ouro de 1982, com "Missing", seguiu atacando o lado mais conservador da política sul-americana. Segundo ele, "incongruências do contemporâneo nos seguem por todos os lados". Em 2019, ele ainda ganhou tributos em San Sebastián por sua bem-sucedida carreira, iniciada com "O crime no carro dormitório", em 1965. "Houve um tempo em que cinema de autor era um cinema de resistência. Mas vimos com o tempo que qualquer filme capaz de espelhar a inquietude de seus diretores é autoral. 'Star Wars' é um filme de autor, por exemplo".

Christos Loulis vive Yanis Varoufakis em "Jogo do Poder" ("Adults in The Room")  Foto: Estadão

"Jogo do Poder" é um drama de tintas cômicas sobre a crise da Grécia nos anos 2010. "Vivo na França há anos e já filmei no mundo inteiro, mas, se você nasce grego, todo o passivo histórico de nossa pátria vem com a gente, e a tragédia é parte desse patrimônio que nos define. A minha contribuição a uma situação de tensão como essa que enfrentamos em nosso país, com a falência econômico, é abrir reflexões que transcendam fatos. Fato é para o jornalismo. O cinema parte do fato para gerar transcendências", disse o realizador que partiu do livro homônimo de Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças da Grécia, sobre a falência de sua nação no fim da primeira década do século. Christos Loulis vive o próprio Varoufakis no longa-metragem, que se concentra em tramitações políticas e judiciais de 2015 para travar a bancarrota das finanças gregas. Valeria Golino e Ulrich Tukur completam o elenco da produção, centrada em tramitações políticas e judiciais de 2015 para travar a bancarrota das finanças gregas. "Estou há muito tempo atento ao que se passa na Grécia, em suas várias tragédias. Comecei essa história em 2007, quando percebi que a Grécia ia quebrar e que a esquerda ia se colocar mais à direita diante do quadro econômico do país. Espero que a nova presente da Comissão Europeia ajuste essa situação", disse o cineasta, que relembrou fatos marcantes de sua vida nas telas na autobiografia "Va où il est impossible d'aller", lançado em 2018, em meio ao Festival de Cannes. Com o descrédito das lutas de classes, a religião mais poderosa que existe neste mundo se chama Dinheiro, uma força amoral que não guarda respeito por nada, sobretudo por fronteiras. Não existe fundamentalismo que seja mais terrorista do que o liberalismo selvagem. O dinheiro tem uma ideologia: comprar o silêncio de todos em nome do lucro".

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