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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Contando os minutos para o Oscar

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
"Drive My Car" pode virar o jogo e ganhar a estatueta principal esta noite  

RODRIGO FONSECA Pode acontecer de tudo nesta noite de Oscar em que "CODA" parece, subitamente, ser capaz de virar o jogo e ganhar para si holofotes que antes eram oferecidos a "Ataque dos Cães", "O" soberano da festa cinéfila, mesmo não sendo tão bom assim, indicado em 12 frentes. Mas algumas atrações desta cerimônia merecem destaque, sendo a principal delas o sucesso absoluto de "Drive My Car". Durante o anúncio das nomeações às estatuetas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, divulgado de Los Angeles no dia 8 de fevereiro, pela atriz Tracee Ellis Ross e pelo ator Leslie Jordan, foram QUATRO indicações para o diretor japonês Ryûsuke Hamaguchi, de 43 anos, e seu longa magistral. Ele concorre aos prêmios de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção, Melhor Filme Internacional e Melhor Filme. E soube disso às vésperas de assumir suas funções como jurado na 72ª Berlinale, que ocorreu de 10 a 20 de fevereiro, presencialmente, com a vitória do espanhol "Alcarrás". É uma distinção merecida para uma produção que trava diálogo com a prosa de Haruki Murakami, um dos mais celebrados escritores do mundo na atualidade, em uma narrativa longa, de 179 minutos de ardor. É a saga de um ator e diretor de teatro em reinvenção, após a morte de sua mulher, construindo laços afetivos com uma jovem motorista. Com sua beleza plástica, o filme já conquistou cerca de láureas e a fama de ser "o melhor filme de angústias adultas dos últimos anos", como se falou em sua passagem pelo Festival de Cannes. Seu realizador brilhou em nossas telas este ano com "Roda do Destino", este ganhador do Grande Prêmio do Júri na Berlinale 2021.

 Foto: Estadão

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Concorre com ele, na vaga do Filme Internacional, o dinamarquês "Fuga" ("Flee"), exibido no Brasil em abril passado, durante a abertura do festival É Tudo Verdade, tem mais chance de ser o expoente em outras categorias. Ele estreia aqui no dia 21 de abril. Qualificado pra lutar pelo troféu dos "estrangeiros" pela Dinamarca, aos olhos da Academia, o longa de Jonas Poher Rasmussen - sobre um intelectual gay afegão que às vésperas de se casar com o namorado, relembra o calvário enfrentado em sua infância, em meio aos talibãs - tem fortes chances de conquistar a estatueta de Melhor Documentário e mesmo a de Melhor Animação. Seus adversários são: entre os .docs, "Summer of Soul (...ou, Quando A Revolução Não Pode Ser Televisionada)", de QuestLove, sobre um concerto de soul music em 1969; e entre os filmes animados, "Encanto", da Disney.

"No Ritmo do Coração" desponta como favorito Foto: Estadão

Mas não adianta querer negar o encanto de "No Ritmo do Coração" ("CODA"), sensação de público e crítica no Festival de Sundance de 2021 que marcha imperativo para o Oscar, com força para destronar o apelo "Ataque dos Cães". Sua singeleza desmonta qualquer trava intelectual capaz de impedir seu avanço e sua transcendência. É a versão USA do longa francês "A Família Bélier" (2014) - dramédia de Éric Lartigau vista por 7.450.944 pagantes só lá nas terras de Truffaut. Pilotado por Sian Heder, esta belezura está na grade da Amazon Prime. Ele disputa as láureas de Melhor Filme, Roteiro Adaptado e Ator Coadjuvante, na qual conta com um favoritismo absoluto, graças ao desempenho memorável de Troy Kotsur. Ele encarna o chefe de uma família com limitações auditivas que vive da pesca, lidando contra as adversidades da surdez, contando com a ajuda da única integrante do clã capaz de ouvir plenamente: a filha adolescente, Ruby, interpretada por Emilia Jones com uma maturidade impressionante. Envolvida com as atividades pesqueiras do pai e da mãe, vivida por uma inspirada Marlee Matlin (ganhadora do Oscar de 1987 por "Filhos do Silêncio"), Ruby está prestes a ir para a universidade e tem um diferencial em seu caminho acadêmico: seu talento para cantar. Seus dotes de ave canora se sofisticam quando ela encontra o apoio (um tanto atabalhoado) do professor de Música Bernardo Villalobos, encarnado pelo brilhante Eugenio Derbez, campeão de bilheteria por trás de "Não Aceitamos Devoluções" (2013). O dilema da menina é seguir seu caminho de soprano ou deixar seus entes queridos para trás. E esse dilema é tocado por Sian Heder com extrema delicadeza. Antes conhecida pelo delicioso "Tallulah" (2016), ela se firma como um dos nomes mais promissores entre as estrelas da direção dos EUA na atualidade, coroada com o prêmio de melhor direção em Sundance por essa lúdica saga familiar. Que vença o melhor! E que ninguém esqueça de Paul Thomas Anderson e de seu brilhante "Licorice Pizza" nos prêmios de melhor roteiro, por favor.

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