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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Close' perfuma Cannes de decepção

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

RODRIGO FONSECA Anestesiada das imposturas do mundo, apesar do luto pela perda do ator Ray Liotta, graças à injeção de sacarose (bem) aplicada por Hirokazu Kore-eda e seu "Broker", sobre adoção de bebês abandonados, a Croisette fechou a noite de quinta sacolejada pela marola de uma promessa de potência (à direção) que não se concretiza: o belga Lukas Dhont. Quatro anos após o sucesso de seu "Girl" (2018), reflexão sobre identidades trans, laureada na Un Certain Regard, o realizador de 30 anos regressa ao Festival de Cannes, agora na competição oficial, com "Close", um estudo sobre o limite entre o bromance e o desejo que frustra em múltiplos espaços. É bem realizado, com uma câmera sempre atenta ao olhar de seu protagonista de 13 anos, Léo (vivido pelo menino Eden Dambrine), e com uma acurada atenção à cena escolar da Bélgica. Mas lhe falta uma inquietação que vá além da aparente tonalidade melodramática de uma trama de descobertas sexuais e de desapego. Há muita obviedade num roteiro que daria um belo curta, mas foi expandido para 1h45. Fica repetitivo, sem reiterações propositivas, o processo de devastação existencial de Léo ao perceber que seus colegas de escola estranham seu carinho pelo melhor amigo, Rémi (Gustav de Waele). O próprio Rémi começa, também, a estranhar a reação de Léo às transformações da idade. E esse estranhamento caminha para o desastre... e para soluções narrativas banais.

 Foto: Estadão

Na sexta, a Quinzena dos Realizadores da Croisette recebe um badalado longa chileno, "1976", de Manuela Martelli, sobre as sequelas políticas de Pinochet. Cannes chega ao fim no sábado, com a entrega de prêmios do júri presidido pelo ator Vincent Lindon. Também no dia 27, o balneário confere uma cópia restaurada de "Cantando na Chuva", celebrando os 70 anos do clássico dos musicais. No fim do dia, a cidade vai conferir os ganhadores da já citada seção Un Certain Regard. Que seu júri, presisido pela atriz italiana Valeria Golino, não se esqueça de "Corsage", drama feminista histórico com CEP na Áustria, deu um realce na carreira da diretora Marie Kreutzer e de sua atriz, a luxemburguesa Vicky Krieps. Ela encarna a imperatriz Elisabeth da Áustria (1837-1898), apelidada de Sissi, como um espírito inquieto que encara xenofobias e ilusões afetivas em busca do desejo de afirmação. A direção de arte de Monika Buttinger estonteia.

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