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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Christopher Plummer encarna Charles Bronson no thriller "Memórias Secretas"

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Christopher Plummer é Zev, um caçador de nazistas, no novo e obrigatório longa-metragem do diretor Atom Egoyan Foto: Estadão

Depois da polêmica que suscitou ao relembrar o holocausto de seu povo em Ararat (2002), Atom Egoyan, um cineasta de sangue armênio, nascido no Cairo (Egito) e radicado no Canadá, debandou para uma linha de thrillers calcados na culpa que dizimaram sua reputação como um narrador hábil em pesquisar novos caminhos para a linguagem audiovisual. Mas há uma vontade de potência (e de mobilização pelo assombro do inconsciente) única em Memórias Secretas (Remember), seu filme mais recente, já em cartaz no Brasil, apoiado num desempenho memorável de Christopher Plummer. Sua fluidez reaviva o paladar das narrativas cheias de charme, temperadas com filetes de transgressão, assinadas pelo realizador em seu início de carreira, como Exótica (1994), a obra-prima O Doce Amanhã (1997) e O Fio da Inocência (1999).

No posto de protagonista, o eterno Capitão Von Trapp de A Noviça Rebelde(1965) dá uma aula de etiqueta mostrando como atuar com elegância no registro da violência ao dar corpo a uma trama de vingança. Egoyan narra em Memórias Secretas a jornada do viúvo Zev (Plummer) para dar cabo do carrasco nazista que assassinou sua família em Auschwitz. Indicada ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, em setembro, a produção de cerca de US$ 13 milhões saiu da terra das gôndolas com o Vittorio Veneto Film Festival Award, num ano em que o prêmio máximo ficou com o engodo Desde Allá, da Venezuela.

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Em Memórias Secretas, o que alimenta os passos de Zev é uma promessa feita ao colega de campo de concentração (e agora de asilo) Max (a lenda viva Martin Landau). Incapacitado de cumprir sua revanche, por estar confinado a uma cadeira de rodas, Max dá as coordenadas para Zev descobrir o paradeiro de seu torturador alemão, hoje radicado em solo americano. Com uma arma na mala, Zev dribla a direção da casa de repouso onde mora e finta seus parentes, ganhando mundo com sangue nos olhos. Mas há um problema para sua cruzada: a cada cochilada, ele perde a percepção da realidade, embatucado entre recordações e o luto pela morte da mulher.

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No limite do delírio, ele tenta manter a sanidade e fazer os remanescentes do hitlerismo pagarem o preço pelo Holocausto. Um encontro inusitado com um agente da Lei (ou quase isso), vivido por Dean Norris, o Hank Schrader de Breaking Bad, dá uma guinada no longa que põe Egoyan de volta aos trilhos. Não se trata de mais uma ciranda de traições e de sustos. Este é um filme que reflete sobre cicatrizes étnicas: tema essencial ao cineasta em sua busca por radiografar identidades.

p.s: Leitores de gibi não podem, de jeito algum deixar de adquirir Tex - O Herói e a Lenda, do italiano Paolo Eleuteri Serpieri, já nas bancas, com o traço abissal do pai de Drunna.

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