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Anne Fontaine é uma das apostas da França nas telas

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Cena de "Police", de Anne Fontaine, uma das apostas do cinemão francês para 2020 Foto: Estadão

A cineasta e atriz une, nos sets, duas das maiores estrelas da Europa Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Há uma leva de quase cem filmes no 22º Rendez-vous Avec Le Cinéma Français, iniciado na quinta-feira, em Paris, transformando o evento anual do governo francês num fórum para a promoção dos maiores sucessos de 2019 e numa plataforma do que pode lotar o circuito do Velho Mundo em 2020 - é aí que se destaca o nome da diretora Anne Fontaine. Um de seus longas-metragens mais recentes, "Marvin" (2017), é um dos destaques afetivos do atual menu da Air France, mas é o trabalho futuro dela que mais faz o público da maratona cinéfila de Paris salivar: "Police". Partindo do livro homônimo de Hugo Boris, a cineasta une duas das mais populares estrelas da França nas telas, na atualidade: Virginie Efira e Omar Sy. Na trama, os dois são agentes da força policial parisiense que, ao conduzir um estrangeiro ao aeroporto, a fim de leva-lo para deportação, percebem que a prisão dele encobre uma situação política delicada. Estima-se que esse projeto possa se tornar um dos acontecimentos do ano na venda de ingressos, dado o calibre de popularidade de seus protagonistas. Sy vem do fenômeno de 20 milhões de ingressos vendidos "Intocáveis" (2011). Virginie vem de cults como "Sibyl", que disputou a Palma de Ouro em Cannes.

Seu êxito pode ampliar o prestígio de La Fontaine, que teve picos em "Marvin". Sutilezas nunca foram o ponto forte da diretora de "Coco antes de Channel" (2009), pelo menos não na representação de sentimentos represados ou de possíveis ambiguidades. A obra dessa atriz e cineasta é guiada pela exposição crua das angústias de seus personagens. Assumida essa natureza, por vezes indigesta, ela deita e rola na releitura para as telas de "En finir avec Eddy Bellegueuleas", as confissões autobiográficas do escritor Édouard Louis acerca do calvário do bullying e da rejeição familiar, à sombra da homofobia. A partir de um diálogo cheio de licenças poética com o livro, Anne estrutura o drama "Marvin ou la belle éducation" como um ensaio sobre a arte de perseverar, na fronteira tênue entre a mágoa e o perdão. Seu protagonista não é Eddy e sim, Marvin Bijou, garoto pobre que cresce acossado pelo rancor homofóbico de colegas e parentes, até se salvar num encontro com o espaço de criação dos palcos, onde vai exorcizar seus demônios. Uma chance de trabalhar com Isabelle Huppert - que interpreta a si mesma nesta produção coroada com o Queer Lion, a láurea LGBT do Festival de Veneza - amplia seu senso de descoberta e de autocrítica no relato construído a cada cena deste longa-metragem. A força confessional do filme ganha potência plástica na delicada fotografia de Yves Angelo ("Germinal") e no carisma do ator Finnegan Oldfield, que vive Marvin na idade adulta, já com outro nome, mas com os mesmos sonhos de paz de seus dias de menino. É o longa de maturidade de Anne como realizadora. Este ano, o Rendez-vous da Unifrance segue até segunda, quando Costa-Gavras, o papa do cinema político, passa por Paris com "Adults in the Room", uma reflexão sobre a crise na Grécia.

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