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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

ANIMAGE celebra o cinema pernambucano

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
"O Mundo de Clara", de Ayodê França, integra a seção pernambucana do Animage Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Grife de resistência na exibição de desenhos, stop-motion, rotoscopia e técnicas afins de moldar a realidade em forma de invenção, o Animage - Festival Internacional de Animação de Pernambuco abre mais uma edição, a 11ª, nesta sexta, sob a curadoria do crítico Júlio Cavani, apostando no que se faz de mais potente - e poético - no setor no mundo. A prata da casa vai estar lá em peso, numa seção pernambucana que inclui: "Un", de Paulo Leonardo; "O Homem das Gavetas", de Duda Rodrigues; "O Mundo de Clara", de Ayodê França; "Um Peixe pra Dois", de Chia Beloto; "PORO'ROG", de Biarritzzz e Marie Carangi. Até o dia 17, serão exibidos, em um formato híbrido (parte online, parte presencial) 150 filmes (145 curtas, 5 longas) de 44 países. As exibições via web serão feitas para todo o Brasil pelo site www.animagefestival.com. Já as sessões presenciais ocorrem no Teatro do Parque, importante polo aglutinador de artistas em terras recifenses.

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Qual e como é a tradição do cinema de Pernambuco com a seara de animação? Júlio Cavani: Pernambuco vai comemorar 50 anos de cinema de animação em 2022. O marco inicial é o curta-metragem "Vendo-Ouvindo" (1972), de Lula Gonzaga, que é o artista pioneiro do estado. A produção pernambucana foi esporádica ao longo das primeiras décadas, mas tem crescido em progressão geométrica nos últimos anos. Menos de 30 curtas foram lançados até a década de 1990. Depois do ano 2000, surgiram mais de 300 novos filmes. Esse crescimento foi impulsionado pelas novas tecnologias e pelos patrocínios estatais que surgiram alimentados pelo bom momento vivido pelo cinema pernambucano. Curtas como "Até o Sol Raiá" e "Guaxuma" estão entre os mais premiados. Os primeiros longas devem ser lançados a partir de 2022, pois a produtora Viu Cine tem dois projetos em estágios avançados de produção. Muitos desses dados estão sistematizados no livro "História do Cinema de Animação em Pernambuco", do pesquisador e animador Marcos Buccini, que participa do Animage deste ano com o curta "Nimbus" e organizará um festival comemorativo dos 50 anos da animação pernambucana em 2022.

"Cryptozoo" é um dos longas da maratona de Júlio Cavani Foto: Estadão

De que maneira a seleção brasileira de 2021 reflete as lutas raciais, de equidade de gênero e de renovação democrática hoje em pauta? Júlio Cavani: Os filmes reunidos pelo Animage têm sempre demonstrado que a arte da animação está conectada com as principais inquietações da sociedade contemporânea. Entre os curtas-metragens nacionais presentes em 2021 com questões de representatividade e política, estão exemplos como "Rasga Mortalha", que faz problematizações urgentes sobre temas sociais como o genocídio indígena e a necropolítica; "Mensagem de uma Noite Sem Fim", que transmite a agonia vivida pelos brasileiros na pandemia; e "Carne", documentário animado que reúne depoimentos sobre vivências femininas. Há ainda curtas realizados por animadores negros, como "Oriki", de Pâmela Peregrino; "O Mundo de Clara", de Ayodê França; e "PORO'ROG", de Biarritzzz e Marie Carangi.

O que os longas selecionados este ano refletem sobre a indústria animada no Brasil e no mundo? Julio Cavani: A originalidade, a essência autoral, a atitude política e a independência criativa estão entre os focos do Animage, que tem um perfil mais artístico do que mercadológico. Em relação ao cinema de animação, o circuito exibidor ainda é muito conservador, predominantemente infantil e comercial. Filmes adultos e experimentais, mesmo os mais premiados, dificilmente chegam ao público brasileiro, salvo raras exceções. Muitos dos longas-metragens que o Animage já exibiu só chegam ao Brasil restritos a festivais e o mesmo deve acontecer este ano com os filmes "On Gaku", "Cryptozoo" e "Absolute Denial".

p.s.: A Abrakazum (de Juno Moraes, Raphael Lós e Kelpo Gils) e a LEP Filmes fizeram uma parceria para transformar a animação "Baby & Lelei" em 26 episódios para TV. Criada em 2020 e com mais de 6 milhões de visualizações no Youtube, as animações de "Baby & Lelei" e sua turma têm conteúdo educativo com o objetivo de entreter e auxiliar nas atividades do dia a dia, trazendo uma nova experiência para as famílias. Nos episódios para streaming/TV, de cerca de 10 minutos cada, o objetivo é manter a base musical, acrescentando uma voz narrativa na construção das histórias, mantendo o caráter didático e lúdico.

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p.s.2: Músicos mineiros consagrados, como Beto Guedes, Milton Nascimento, Fernando Brant e Lô Borges, serão homenageados na quinta livezinha que o Grandes Músicos para Pequenos apresenta, este ano, em parceria com o projeto "Diversão em Cena". Com direção de Diego Morais e roteiro de Pedro Henrique Lopes, o programa vai apresentar o espetáculo digital inédito Trenzinho de Minas, neste domingo, às 16h. A live vai alternar trechos da peça com quadros musicais e atividades interativas. A exibição será feira no canal no Youtube da Fundação ArcelorMittal (www.youtube.com/FundacaoArcelorMittal) e no Facebook do Diversão em Cena (facebook.com/DiversaoEmCena). Na trilha sonora, estão sucessos como "Canção da América", "Bola de meia, bola de gude", "Fé Cega, Faca Amolada", entre outros clássicos nacionais.

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