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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Adonis Creed e Rocky Balboa no ringue da Globo

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Creed (Michael B. Jordan) recebe dicas de Rocky (Stallone) antes de entrar em luta Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Em meio à maciça (e bem-vinda) promoção feita pela Amazon Prime, a fim de badalar a estreia de "Samaritan", no dia 26 de agosto, e ao empenho da Paramount + para publicizar a série "Tulsa King", a TV Globo agendou "Creed II" para a "Tela Quente" da próxima segunda-feira, dia 1º, apostando no carisma de Sylvester Stallone e no êxito de seus filmes na TV aberta. O longa-metragem escolhido para a tradicional sessão de cinema da emissora carioca custou US$ 50 milhões e faturou US$ 214 milhões. Veio na esteira da bem-sucedida carreira do "Creed" original, de 2015, que rendeu a Sly uma indicação ao Oscar de Melhor Coadjuvante. Há uma terceira parte da franquia já a caminho, prevista para o fim do ano, próxima ao Natal. Esa "parte dois" foi dirigida por Steven Caple Jr. Revelado em Sundance, há sete anos, com o drama juvenil "The Land", ele tomou pra si a direção de "Creed II" na marola da consagração autoral de Ryan Coogler, realizador do filme anterior, com "Pantera Negra" (2017). O sucesso de Coogler nas florestas de Wakanda fez com que este optasse apenas por um posto de produtor executivo, deixando o caminho livre para outro cineasta pilotar a saga de Adonis Creed, no auge do êxito de seu intérprete, Michael B. Jordan. Houve ainda uma reciclagem midiática da imagem de Stallone, com a conquista do Globo de Ouro, em 2016, pelo regresso (já grisalho) de Rocky Balboa. A tarefa era difícil, mas Caple Jr. executou-a de maneira impecável, não apenas pela alquimia plena entre sua concepção de tônus trágico de planos e o enquadramento convulsivo do fotógrafo Kramer Morgenthau (de "Game of thrones"), mas por sua aposta na dimensão afetiva dos antagonistas. Nem John G. Avildsen (1935-2017), artesão por trás do primeiro e do quinto filme da franquia Balboa, foi capaz de dar tanto relevo emocional aos adversários dos heróis pugilistas da Filadélfia como Caple Jr. faz aqui, a partir do roteiro de Juel Taylor e do próprio Stallone, com o apoio de Dolph Lundgren no elenco, à frente de um argumento de Sacha Penn. No ar na HBO Max como Rei Nereus, em "Aquaman", o Maciste sueco dá à figura derrotada de Ivan Drago uma dimensão de mito caído, de Prometeu acorrentado a um passado falido, tão vívida e doída quanto a imagem envelhecida e enlutada que Stallone soube construir para o Garanhão Italiano. Na trama, Drago regressa de um buraco ucraniano, 32 anos após ter matado Apollo Creed, o Doutrinador (Carl Weathers), para desafiar o herdeiro deste, Adonis (Jordan, dublado por Renan Freitas). Os punhos que hão de bater de Adonis não serão os de Drago e sim de seu filho, Viktor, vivido por Florian Munteanu, que apesar de ter poucos recursos cênicos, transmite uma angústia que nenhum rival de Rocky teve. Na montagem, a edição das viradas dramáticas de afeto, paralelas aos combates, são tão frenéticas quanto as lutas em si. E o auge da fúria vem quando uma velha conhecida da série, Ludmilla (Brigitte Nielsen, a ex de Sly), a mãe de Viktor, reaparece, como um mimo cinéfilo: seu desdém dói mais que qualquer nocaute, num filme que coroa o desejo de Lundgren de envelhecer como um ator respeitável, reinventando-se assim como Stallone se reciclou. E assim como Brigitte traz potência do feminino para um universo sobre os códigos da virilidade e do emasculamento, as atrizes Tessa Thompson (como Bianca, a mulher de Adonis) e (a ótima) Phylicia Rashad, a viúva de Apollo, têm espaço em cena para escavarem complexidade para suas personagens. No Brasil, Luiz Feier dubla Stallone com a perfeição habitual.

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